Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 24 de outubro de 2022
As dívidas com cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal e prestações de carro e de casa, além de cheque pré-datado, estão pesando no bolso dos brasileiros: o endividamento da população que ganha até dez salários mínimos por mês (R$ 12.120) chegou a quase 80% em setembro, segundo um levantamento feito pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). E isso está levando casais à separação.
A solução para sair do endividamento, segundo especialistas, é negociar com credores e fazer um mapeamento de receitas e despesas para ajustar o orçamento doméstico. Mas, no caso dos casais, um fator que não é apontado nas pesquisas vem ganhando destaque: a infidelidade financeira.
Enquanto alguns gostam de dividir os mínimos detalhes de suas vidas pessoais, outros valorizam a independência e preferem não compartilhar tudo com o parceiro. O problema acontece quando os segredos entre o casal envolvem as finanças. Neste cenário, o risco de cometer uma infidelidade financeira aumenta substancialmente.
“Ser infiel financeiramente nada mais é do que não ser totalmente honesto com o parceiro em relação às finanças. Por exemplo, esconder dívidas, mascarar gastos ou não revelar investimentos são ações que se enquadram nessa categoria. No longo prazo, a infidelidade financeira pode prejudicar não somente as contas do casal, mas contaminar o relacionamento como um todo”, explica Gilberto Braga, professor do Ibmec e economista.
“Imagine uma situação em que recém-casados lutam para equilibrar as contas e montar uma casa, mas um dos dois continua gastando além das possibilidades e escondendo as compras que faz do parceiro. Isso é infidelidade financeira”, exemplifica.
De acordo com outro especialista, há várias situações e atitudes com potencial de serem consideradas como infidelidade financeira.
“Independentemente de serem mentiras bobas (como uma compra escondida) ou algo mais complexo (como dívidas que colocam em risco os bens do casal), é fato que não ser transparente em relação às finanças pode ter um impacto grande no relacionamento”, complementa o advogado Marcelo Amorim: “O primeiro baque é a perda da confiança quando o parceiro descobre a mentira ou a omissão. Além disso, a falta de transparência pode evoluir para um quadro em que as duas pessoas passam a viver vidas separadas, o que pode colocar em risco a construção da vida a dois”.
“Esta é uma situação muito comum entre casais que passam pela separação e é muito importante dizer que a escritura de união estável pode auxiliar nesta hora, já que no momento de sua elaboração pode ser definido o regime de bens que irá vigorar durante a relação”, orienta José Renato Vilarnovo, presidente do Colégio Notarial do Brasil – Seção RJ.
Risco ao relacionamento
Foi justamente a infidelidade financeira que levou Janaína Souza Oliveira, de 45 anos, moradora de Vista Alegre, na Zona Norte do Rio, a dar um basta no relacionamento de dez anos com o ex-marido, de 52, que ela pediu para não ser identificado.
“Nós dois trabalhávamos, e ele ganhava mais do que eu. Mas o dinheiro dele nunca dava para pagar as despesas da casa. Num mês a conta de luz sobrava para mim, no outro era o cartão de crédito, e assim fui acumulando contas. Meu dinheiro já não dava para levar nosso filho ao shopping para comprar um picolé”, reclama.
A gota d’água para o fim do casamento foi o financiamento de um automóvel que o ex-marido resolveu comprar sem avisar. Ele acabou não pagando a prestação. O caso está na Justiça.
Como evitar?
O primeiro passo para não ser infiel no âmbito das finanças é ser transparente. Na prática, isso quer dizer não esconder informações financeiras que você sabe que são relevantes para a vida do casal.
É importante usar o bom senso para saber o que precisa ser dito para o parceiro, de forma a manter uma relação de honestidade em relação ao tópico finanças.
Usar planilhas é uma maneira de controlar os gastos domésticos do casal e traçar planos — para cortar despesas e investir em sonhos em comum, por exemplo.
Traçar alguns planos de conjunto pode ser uma boa solução. Seja algo menor, como uma viagem de final de semana, seja uma meta de vida mais ambiciosa, como comprar um apartamento, o importante é que os dois trabalhem em conjunto para organizar as finanças e alcançar o sonho.