Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 26 de outubro de 2022
Embora seja um marco inevitável na vida de todas as mulheres, a menopausa é considerada um tema deixado de fora da conversa pela maioria da população. É o que mostra uma nova pesquisa da empresa de higiene e saúde Essity, que entrevistou 2 mil brasileiras e constatou que 7 a cada 10 entrevistadas (69%) concordam que a menopausa ainda é um tabu. Especialistas apontam que não abordar a questão pode afastar mulheres do conhecimento necessário sobre o período, das maneiras de prevenir e amenizar os sintomas incômodos e de entender o que de fato acontece com o corpo quando ele deixa de menstruar.
O levantamento da Essity revelou também que, embora a estimativa seja de que em apenas três anos mais de um bilhão de mulheres vivenciem uma das fases associadas à menopausa no mundo, 55% das brasileiras disseram não gostar de falar sobre o assunto por ser ligado à velhice e à “deterioração” do corpo.
“Existe o estigma, que não é verdade, de que a menopausa é ligada basicamente a um monte de sintomas ruins, ao envelhecimento, à perda capacidade sexual, o que é muito forte para uma mulher de 50 anos que hoje é uma mulher jovem”, explica a ginecologista e obstetra Marianne Pinotti, do grupo de cirurgia oncológica e mamária da Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
Essa realidade da falta de informação não é restrita ao Brasil. Uma pesquisa do Reino Unido, encomendada para o Dia Mundial da Menopausa celebrado nesta terça-feira, mostrou ainda que 80% das britânicas entre 18 e 74 anos relatam estar “despreparadas” para o momento, e apenas 17% disseram saber amenizar os impactos no corpo.
“Nós percebemos na prática uma parcela bastante grande de mulheres que realmente conhecem muito pouco a respeito da menopausa e que, por não conhecer, logicamente não estão tão preparadas quando esse momento acontece”, afirma o ginecologista Luciano de Melo Pompei, presidente da Comissão Nacional Especializada em Climatério da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
O que é a menopausa?
Ao nascer, as mulheres já têm um número de folículos – células que vão desenvolver os óvulos – pré-estabelecido. Com isso, após a puberdade, ela passa a liberar esses gametas aos poucos durante os períodos férteis até a última menstruação – que é a chamada menopausa.
“A idade da menopausa é muito parecida no mundo todo, sempre por volta dos 48 aos 51 anos, porque o ovário nasce com a capacidade de produzir os hormônios, especialmente o estrogênio, para liberar os óvulos por um tempo limitado. Quando o ovário para de produzir os hormônios, a mulher para de menstruar e essa última menstruação é chamada de menopausa”, explica Pompei.
Muitas pessoas confundem, no entanto, a menopausa com o período que a antecede, em que a liberação dos hormônios femininos começa a cair e provocar os sintomas característicos. Esse período, de forma mais ampla, é chamado de climatério – fase de transição do período reprodutivo para o não reprodutivo na vida da mulher.
Principais sintomas e causas
Nem toda a mulher vive os famosos sinais da menopausa, porém a prevalência é alta. Segundo um estudo brasileiro, conduzido por Pompei e publicado no periódico Climacteric, cerca de 88% relatam os sintomas.
Nesse contexto, embora mais de 30 sintomas sejam reconhecidos hoje pela ciência, a pesquisa da Essity mostrou que as principais queixas entre as brasileiras são as ondas de calor, por 69% das entrevistadas, e a irritabilidade, por 40%, seguidos por secura vaginal e insônia.
“A maioria das mulheres têm sintomas leves ou moderados durante dois ou três anos nesse período. Uma pequena minoria não sente nada, apenas para de menstruar, e uma outra pequena quantidade de mulheres têm sintomas muito fortes durante muito tempo. Mas os sintomas na maioria das vezes são passageiros e existem formas de controlá-los”, diz Pinotti.
Ondas de calor
No primeiro momento, os especialistas explicam que o principal sintoma são as ondas de calor, também chamadas de fogachos. Segundo a pesquisa da Climacteric, geralmente elas surgem aos 47 anos, quando a produção do estrogênio começa a cair.
“Elas acontecem porque o estrogênio tem uma função de regulação térmica, de calor, e a hora que a produção dele abaixa, essa regulação da temperatura corporal fica desbalanceada”, explica a ginecologista.
Pinotti afirma que, assim como para os demais sintomas, as principais formas de amenizar as ondas de calor são com alimentação adequada e uma rotina atividade física.
Secura vaginal
Outro sinal apontado recorrentemente, embora ainda pouco abordado devido ao tabu, é o ressecamento vaginal – a diminuição ou ausência de umidificação natural da vagina. Isso porque o estrogênio também atua na hidratação da região, então a queda na sua produção provoca uma perda dessa ação.
Além disso, Pinotti explica que o hormônio é muito ligado à sexualidade, então a fase do climatério pode levar a uma série de alterações nesse aspecto, como perda de libido e de excitação, o que consequentemente contribui para a menor lubrificação, e uma maior dificuldade para atingir o orgasmo.
Ela explica que, nesse caso, existem lubrificantes íntimos e cremes hidratantes destinados à região íntima da mulher que podem ser indicados pela ginecologista de acordo com a estratégia mais adequada para cada paciente. Eles podem ajudar tanto no ressecamento, como nos outros aspectos da sexualidade afetados pelas mudanças hormonais.
Reposição hormonal para casos mais graves
Em casos mais graves dos sintomas, os especialistas explicam que há ainda a possibilidade de reposição hormonal do estrogênio e da progesterona, mas que não é uma terapia indicada a todas as mulheres e deve ser realizada apenas após indicação do ginecologista.
Esse rigor é importante pois a terapia já foi associada a aumentos na incidência de câncer de mama e de endométrio, embora seja segura quando devidamente orientada por um especialista. Pinotti explica que o ideal é que ela seja utilizada na dosagem mais baixa possível e pelo menor tempo necessário.