Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 29 de outubro de 2022
O grande protagonista da atual crise de energia é o gás natural. Anteriormente visto pelas empresas de petróleo como uma espécie de subproduto, nos últimos anos o gás natural se transformou na energia de transição para uma matriz energética 100% limpa.
Estamos vivendo a era de ouro do gás por causa de dois avanços tecnológicos. A liquefação fez com que países que possuíam campos de gás inviáveis economicamente pudessem entregar gás através de navios em países que construíssem terminais de regaseificação. O segundo foi a descoberta nos Estados Unidos do shale gas, que aumentou ainda mais a oferta de gás. A partir daí, os preços se descolaram do petróleo, levando a um crescimento da demanda mundial.
Nesse contexto, os países asiáticos começam a se destacar como grandes consumidores, e a Europa, dando muita atenção à transição e pouca à confiabilidade energética, fica refém do gás russo. A formação do preço do gás passou a ser feita regionalmente. No momento temos o Brent; o Henry Hub, para o mercado da Bacia do Atlântico; o JKM, para o mercado asiático; o TTF, para a Europa; e o NBP, para o Reino Unido. Se o gás já fosse uma commodity, seu preço atualmente seria o do gás nos Estados Unidos mais liquefação, frete e chegada aos terminais na Europa.
O fato é que a indústria de gás mudou de forma estrutural. Agora, o gás no Henry Hub americano custa algo como US$ 7/MMBtu, enquanto, na Europa, entre US$ 50 e US$ 60/MMBtu. O gás permanecerá caro até 2026-2027 por falta de infraestrutura e de nova oferta mundial de Gás Natural Liquefeito (GNL). A partir de 2027, com investimentos feitos em aumento da capacidade de liquefação, por causa do aumento da oferta e dos terminais de regaseificação, devemos ter preços menores do gás, mas nunca mais a US$ 5/MMBtu.
A explicação é uma demanda crescente substituindo o óleo e o carvão. Se havia alguma dúvida de que o gás é a energia de transição, foi dissipada com a guerra da Ucrânia. O Brasil precisa se posicionar diante desse cenário. Não podemos ficar reféns da importação da Bolívia e do GNL, sob pena de sermos a Europa amanhã. Se a crise hídrica de 2021 fosse neste ano, estaríamos provavelmente em racionamento em razão do preço do gás que precisaríamos importar e sem garantia de recebimento, pois estaríamos disputando o gás da Bacia do Atlântico com a Europa.
Precisamos de legislações e regulações que incentivem a construção de infraestrutura e aumentem a oferta nacional de gás. Não podemos continuar reinjetando mais de 60 milhões de metros cúbicos ao dia. Atualmente, por exemplo, reinjetamos gás que em equivalente ao barril de petróleo custa US$ 300 para extrair um petróleo a US$ 90. Os modelos que utilizam o preço do barril de petróleo para mostrar a viabilidade de extração de gás precisam ser revistos, sob pena de o Brasil não participar da era de ouro do gás natural.