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Política Da fama à cadeia: a trajetória da pastora e deputada cassada Flordelis

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Eleita deputada federal em 2018, Flordelis ficou conhecida por afirmar ser mãe de 55 filhos. (Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados)

Marcada pela propagação da fé, a trajetória de Flordelis dos Santos de Souza, de 61 anos, mudou completamente de rumo desde o assassinato do também pastor Anderson do Carmo, em junho de 2019, na residência que o casal dividia com vários dos filhos em Niterói, na Região Metropolitana do Rio.

Eleita deputada federal em 2018, tendo como uma de suas principais bandeiras a desburocratização da adoção no Brasil, Flordelis ficou conhecida por afirmar ser mãe de 55 filhos, a maioria deles apenas afetivos, sem que tenham sido formalmente adotados. A ex-parlamentar relata que sua história de acolhimento de crianças e adolescentes teve início no início dos anos 1990, quando ela ainda vivia na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. Flordelis afirma que, em apenas uma noite, acolheu 37 crianças que tinham fugido de uma chacina na Central do Brasil, no Centro do Rio.

Foi no Jacarezinho que Anderson e Flordelis se conheceram. Quando o casal começou a se envolver, ela tinha 30 anos e ele, que também morava na comunidade, 14. Inicialmente, ele passou a frequentar a casa de Flordelis, que já fazia um trabalho com jovens na comunidade, mas acabou se apaixonando por ela. Na época, Flordelis estava recém-separada do primeiro marido.

Trajetórias

Quando conheceu Anderson, a missionária já tinha três filhos biológicos do primeiro casamento e que viviam com ela — Simone, Flávio e Adriano. Anderson fugia do perfil dos outros jovens acolhidos pela pastora. Eles, em geral, tinham problemas familiares ou parentes envolvidos com o tráfico. Já Anderson vivia com os pais e estava concluindo o ensino médio. Poucos meses antes, havia conseguido um trabalho como jovem aprendiz no Banco do Brasil.

Desenvolto e articulado, Anderson tornou-se líder do grupo de jovens da igreja tocada por Flordelis. A pastora foi sua segunda namorada, de acordo com o relato da mãe, Maria Edna do Carmo. O primeiro namoro foi com Simone, filha biológica de Flordelis.

Anderson logo assumira a função de administrador da casa. Era visto, entre os jovens do Jacarezinho que chegaram com ele, como um irmão mais velho, uma liderança, apesar de até ser mais novo que um deles, Carlos. Tinha uma estratégia criativa para levantar dinheiro usando a imagem de pastora de Flordelis.

Fuga 

Como a situação de muitas das crianças não era regularizada, Flordelis fugiu de diversas fiscalizações da Vara da Infância e Juventude ao longo dos anos 1990 e a família passou por diversos endereços. Na época, dizia que era perseguida. Em 1999, Anderson e Flordelis fundaram sua primeira igreja.

O Ministério Flordelis chegou a ter cinco filiais, além da sede. O auge da popularidade de Flordelis foi um documentário de 2009 (“Flordelis — basta uma palavra para mudar”), que narrava como ela se tornara mãe de 55 filhos. O filme, estrelado por diversos rostos conhecidos, foi um trampolim para seu lançamento no mundo da música e, em seguida, no meio político.

Interessado em negociar a trilha sonora do filme, Anderson procurou o já falecido senador Arolde de Oliveira, dono da gravadora evangélica MK Music. Oliveira abraçou o projeto gospel e acabou sendo o grande padrinho político da pastora. Flordelis passou a integrar o time de artistas da gravadora e fazia turnês no Brasil e no exterior. Tinha uma carreira de artista, não era apenas mais uma pregadora.

Mentor de Flordelis, Anderson começou a impor uma condição para as apresentações da mulher. Ele teria de fazer a pregação de abertura. Revelou-se um orador articulado, com especial talento quando dava seu testemunho sobre a narrativa emocionada de como o casal se encontrou e se uniu.

Anderson mostrava-se controlador a respeito da mulher, das finanças, da igreja. Escolhia as roupas que ela usava e fazia questão de sugerir até os temas que ela abordaria com os fiéis. Discordâncias causavam desentendimentos. Por vezes, a pastora reclamava.

Apesar do jeito “mandão”, endeusava a mulher. Uma das coisas que o deixavam enfurecido era ver os filhos discordando da pastora. Era terminantemente proibido na família.

A imagem de mandachuva fazia com que nem todos os filhos enxergassem Anderson como pai. Muitos o viam como um líder e o chamavam pelo apelido de Niel. Já Flordelis era chamada por quase todos de mãe, com raríssimas exceções. Roberta Santos, por exemplo, acolhida ainda bebê, ficara sob os cuidados de dois filhos adotivos que se casaram, Carlos e Cristiane. Roberta os chamava de pai e mãe. Era comum, na casa, o cuidado dos filhos mais novos ser delegado aos mais velhos.

Eleição

Quando Flordelis foi eleita deputada federal pelo PSD, em 2018, o papel de mentor de Anderson foi reconhecido no meio político. No início de 2019, foi ao então presidente da Casa, Rodrigo Maia, pleitear um crachá para circular no plenário. Flordelis fez coro ao apelo: disse que não tinha condições de assumir o mandato sem o marido. O pedido foi aceito.

Anderson articulou os principais compromissos da mulher em Brasília: conseguiu que fosse recebida pela primeira-dama Michele Bolsonaro, no Palácio da Alvorada e pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. Também foi do pastor a articulação de um seminário sobre adoção na Câmara dos Deputados, realizado pouco mais de duas semanas antes de sua morte.

Tudo ruiu na madrugada de 16 de junho. Anderson do Carmo de Souza foi assassinado, na garagem da casa da família, em Pendotiba. Para a polícia, o crime foi planejado e executado por integrantes da família. Às 3h25, Anderson e Flordelis chegaram à casa depois de uma noite juntos. A pastora relatou que se dirigiu ao terceiro andar, enquanto o marido permaneceu na garagem. As câmeras de segurança não registraram a entrada de nenhuma pessoa estranha na casa. O pastor foi baleado cerca de dez minutos após ter chegado à casa.

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https://www.osul.com.br/da-fama-a-cadeia-a-trajetoria-da-pastora-e-deputada-cassada-flordelis/ Da fama à cadeia: a trajetória da pastora e deputada cassada Flordelis 2022-11-07
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