Sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 8 de novembro de 2022
Um dos principais articuladores políticos do presidente Jair Bolsonaro, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, acredita que o momento é de “pacificação”. E de mirar o futuro, após a dolorosa derrota na eleição presidencial mais disputada desde a redemocratização do País.
Bolsonaro perdeu para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por uma diferença de pouco mais de 2 milhões de votos no dia 30 de outubro. Com o presidente recluso, seus apoiadores passaram a promover atos antidemocráticos. Chegaram a bloquear estradas e passaram a se aglomerar em frente a quartéis pedindo “intervenção federal”.
Na segunda-feira (7), manifestantes atacaram agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Novo Progresso, no Pará. O ato na BR-163, onde bolsonaristas mantêm interdições, teve tiros, arremesso de pedras e outros objetos contra viaturas da polícia. Em Santa Catarina, um grupo que bloqueava a BR-470 agrediu com barras de ferro dois agentes da PRF, que ficaram feridos.
“Manifestação pacífica, sim. Bloqueio de estrada e ‘intervenção federal’ sou contra”, disse Faria.
O ministro acredita que, apesar da derrota na eleição majoritária, Bolsonaro saiu fortalecido das urnas por ter conseguido eleger uma bancada consistente de deputados e senadores. Isso, em sua opinião, o credencia a liderar a oposição a Lula nos próximos anos. Por isso, diz, é hora de “olhar para a frente”.
A seguir os principais pontos da entrevista concedida ao Valor Econômico:
1) Na sua avaliação, o que levou à derrota na eleição?
Nesse processo todo, primeiro o presidente enfrentou a barragem de Brumadinho, logo em 2019. Depois, foram três anos de pandemia, seguida por uma crise hídrica e, depois, uma guerra da Ucrânia com a Rússia. Isso fez com que o presidente perdesse muita gente. Muitos votos que foram para o Lula foram votos de pessoas que votaram em Bolsonaro em 2018. Não eram votos do PT. Eram votos de pessoas que tinham ficado chateadas com o Bolsonaro por um episódio que aconteceu na pandemia e em outros episódios.
2) Os casos Roberto Jefferson e Carla Zambelli atrapalharam?
O presidente, ao longo da eleição, foi recuperando muita gente, foi
diminuindo a rejeição. Naquele episódio do Roberto Jefferson, ele estava cruzando. Era o momento que estava fazendo o “x”. Ali, foi um momento crucial, porque foi uma semana antes da eleição. Ele já estava crescendo no voto feminino. Aí volta aquela questão do armamento, mostra um aloprado, que deu 20 tiros contra a polícia e foi colocado como apoiador [do Bolsonaro]. A gente vinha trabalhando para diminuir a rejeição, ali teve um freio muito forte. Mas não tem como medir.
3) O presidente já assimilou a derrota?
Ele é um ser político. Antes de ser presidente, ele ficou 28 anos como
deputado. Saiu do baixo clero para virar presidente da República, algo que ninguém nunca tinha visto. Eu acho que neste momento agora ele está assimilando, tentando entender o que aconteceu, o que ele vai fazer nos próximos dias para frente.
4) Quais os próximos passos que ele deve dar?
O que a gente quer é que ele consiga juntar essa turma toda, esse legado que
ele fez, esses deputados e senadores. O bolsonarismo está muito forte, está vivo. Isso é reflexo de um governo que deu certo em muitas áreas e teve entregas importantes. Mas eu acho que é um momento de dar a ele esse momento de reflexão. É um momento dele mesmo, de dar um tempo ao presidente. Depois que ele assimilar tudo, ele deve convocar os ministros para ter uma conversa.
5) O senhor atribui o silêncio do presidente a essa reflexão?
Eu acho que é um momento de reflexão, de assimilação, de entendimento,
que é importante. Ele se dedicou demais, trabalhou demais, praticamente não
dormiu. O presidente foi um guerreiro durante a eleição. Ele merece um descanso para ele refletir.
6) Qual vai ser o papel do senhor na transição?
Vou focar muito nessa área de telecomunicações. E me colocar muito à
disposição, no que for possível. Quero ter um perfil muito técnico nessa transição, um perfil que a gente teve aqui em telecomunicações. Mas, se precisar expandir para algo que seja demandado, estou à disposição.
7) Como o senhor vê esses protestos que pedem “intervenção federal” em
frente aos quartéis?
Eu lutei, me dediquei integralmente como ministro para ajudar o presidente
Bolsonaro. Por acreditar nele e por ser muito grato e leal ao convite que ele me fez como ministro. Mas, depois que passaram as eleições, eu acho que agora é o momento de ter serenidade, tranquilidade, de pensar no Brasil. Eu não quero ser contra quem quer vestir a camisa e sair nas ruas. Acho que cada um tem o direito de fazer o que quer. Mas eu, particularmente, acho que a gente tem que seguir em frente, olhar para a frente. A gente tem que pensar no País. Manifestações pacíficas, sim. Bloqueio de estradas e “intervenção federal”, sou contra.