Quinta-feira, 06 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 12 de novembro de 2022
A ex-deputada Flordelis disse neste sábado (12), no julgamento em que é ré pela morte de seu marido, o pastor Anderson do Carmo, que abusos que o pastor cometia dentro de casa foram a motivação para que fosse assassinado – inclusive contra ela.
“É muito difícil para mim falar, mas foi a ciência dos abusos que aconteceram dentro da minha casa.”
Flordelis voltou a negar, no entanto, que tenha envolvimento na execução: “Eu só queria dizer e pros jurados que eu não, em momento algum, eu mandei ou pensei em matar o meu marido. Eu estou na cadeia hoje pagando por algo que eu não fiz. Eu amava o meu marido. Está sendo muito difícil a vida para mim.”
A versão dita por ela no Tribunal do Júri destoa da acusação do Ministério Público. Flordelis foi denunciada como a mandante da execução e responde por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.
A ex-deputada lembrou que dois filhos – Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas Cézar dos Santos de Souza – foram condenados pela execução, mas disse que não poderia dizer quem foram os autores porque não estava na cena do crime.
“Eu não posso acusar ninguém, eu não estava presente no local, eu não vi. Eu não posso afirmar. Meu filho Flávio foi sentenciado e meu filho Lucas foi sentenciado.”
Flordelis se emocionou muito durante o interrogatório. Um dos jurados chegou a perguntar se o choro era real, e a ex-deputada confirmou que “sim”.
Outros quatro réus já foram condenados pelo caso. Desde segunda-feira (7), além de Flordelis, também são julgados mais quatro filhos dela.
Detalhamento
No depoimento, Flordelis falava, entre soluços e choro, sobre as supostas agressões e abusos cometidos durante o sexo.
“Ele me batia. Alguns filhos entravam na frente. Ele só parou de me bater quando um pastor muito amigo dele me tirou do quarto e se colocou para conversar com ele a sós (…) Depois, ele voltou a ficar agressivo, na área sexual. Ele só sentia prazer se me machucasse – e me machucava. Ele só chegava às vias de fato se me machucasse.”
Apesar dos relatos de abusos por parte de Anderson do Carmo, Flordelis falou que “morreu junto” com o marido. Chorando, disse também que não tem que pagar pelos erros de ninguém e que é inocente: “Eu não tenho que pagar pelos erros de ninguém. Há três anos estou pagando por uma coisa que eu não fiz. Eu estou sendo chamada de mandante do assassinato da pessoa que eu mais amei nessa vida.”
Durante o primeiro dia de julgamento, a promotoria leu o que considera indícios da participação de Flordelis no crime, como um diálogo com um filho adotivo que, para testemunhas como o delegado Alan Duarte, mostra que a pastora preferiu cometer o crime do que se separar, para evitar escândalos na igreja.
O delegado também narrou algumas supostas tentativas de envenenamento malsucedidas e que teriam sido promovidas por Marzy Teixeira, filha adotiva de Flordelis. Contou também que houve uma tentativa de contratação de pistoleiros para executar o pastor.
Abusos
Rayane dos Santos, neta de Flordelis, falou logo depois da pastora e ex-deputada federal. Ela negou qualquer participação no crime, e disse que os depoimentos que citam que ela teria perguntado a várias pessoas da família sobre pistoleiros para matar Anderson foram combinados. Ela ainda relatou ter sido vítima de um abuso de Anderson do Carmo no apartamento funcional de Flordelis em Brasília, mas afirmou que nunca denunciou o crime por medo.
Marzy Teixeira, filha afetiva de Flordelis e Anderson do Carmo, negou participação no crime, mas confessou um plano frustrado para matar Anderson em 2018. No interrogatório, ela citou episódios agressivos e um caso de suposto assédio cometido por ele.
Simone dos Santos foi a última ré a prestar depoimento. Ela citou várias vezes que mentiu por “vergonha”, e que Flávio Rodrigues cometeu o assassinato após ela ter contado sobre supostos abusos cometidos por Anderson contra sua filha, Rafaela.