Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 19 de novembro de 2022
“Hoje me sinto catari. Hoje me sinto árabe. Hoje me sinto africano. Hoje me sinto gay. Hoje me sinto deficiente ”, disse ele.
Foto: Reprodução/TwitterNa véspera da abertura da Copa do Mundo de 2022 no Catar, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, fez um monólogo de uma hora contra as críticas do Ocidente às polêmicas do torneio. Infantino olhou desanimado enquanto se dirigia a centenas de jornalistas em Doha, no Catar, neste sábado (19).
“Aprendemos muitas lições com os europeus, com o mundo ocidental”, disse ele, referindo-se às críticas ao histórico de direitos humanos do Catar. “O que nós, europeus, temos feito nos últimos 3 mil anos, devemos nos desculpar pelos próximos 3 mil anos antes de começar a dar lições de moral”, acrescentou.
Apesar do jogo de abertura estar marcado para o dia 20 de novembro, Infantino mal falou sobre futebol e concentrou sua atenção no que chamou de “hipocrisia” da crítica ocidental. Na coletiva de imprensa, Infantino parecia exausto. Ele passou muito tempo defendendo a decisão da Fifa, de 2010, de sediar a Copa do Mundo no Catar. Uma decisão controversa tomada quando ele não era o presidente do órgão.
Este torneio será um evento histórico, a primeira Copa do Mundo a ser realizada no Oriente Médio, mas também está envolto em polêmicas. A maior parte se refere a violações dos direitos humanos, desde a morte de trabalhadores migrantes e as condições as quais eles são submetidos no Catar, até os direitos da população LGBTQIA+ e das mulheres.
Apesar de admitir que as coisas não são perfeitas, Infantino disse que algumas críticas eram “profundamente injustas” e acusou o Ocidente de ter dois pesos e duas medidas.
O italiano abriu a entrevista coletiva falando por uma hora, dizendo aos jornalistas que sabia o que era ser discriminado, dizendo que sofreu bullying quando criança por ter cabelos ruivos e sardas.
“Hoje me sinto catari. Hoje me sinto árabe. Hoje me sinto africano. Hoje me sinto gay. Hoje me sinto deficiente. Hoje me sinto um trabalhador migrante”, disse ele, diante de uma plateia atônita.
“Eu sinto isso, tudo isso, porque o que eu tenho visto e o que me têm dito, já que eu não leio, senão eu ficaria deprimido eu acho. O que vi me traz de volta à minha história pessoal. Sou filho de trabalhadores migrantes. Meus pais estavam trabalhando muito, muito duro em situações difíceis”, acrescentou.
Infantino disse que houve progresso no Catar em uma série de questões, mas insistiu que uma mudança real leva tempo, acrescentando que a Fifa não deixará o país após o término do torneio. Ele sugeriu que achava que alguns jornalistas ocidentais esqueceriam os problemas.
“Precisamos investir em educação, para dar a eles um futuro melhor, para dar esperança. Todos nós devemos nos educar”, disse ele.
“Reformas e mudanças levam tempo. Demorou centenas de anos em nossos países da Europa. Leva tempo em todos os lugares, a única maneira de obter resultados é engajando […] e não gritando.”
Infantino também abordou questões sobre a decisão de última hora de proibir a venda de álcool nos oito estádios que receberão as 64 partidas do torneio. Em um comunicado da Fifa divulgado na sexta-feira, o órgão regulador disse que o álcool seria vendido em fan fests e locais licenciados.
O país muçulmano é considerado muito conservador e regula rigidamente a venda e o uso de álcool.
Em setembro, o Catar havia dito que permitiria que torcedores com ingressos comprassem cerveja alcoólica nos estádios da Copa do Mundo três horas antes do início do jogo e por uma hora após o apito final, mas não durante a partida.