Quinta-feira, 24 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 6 de dezembro de 2022
É praticamente impossível escapar dos anúncios de sites de apostas esportivas. Em tempos de Copa do Mundo, todos os intervalos comerciais das TVs aberta e paga e das rádios estão tomadas por anúncios que incentivam as pessoas a “fazer uma fezinha” em jogos de futebol.
Apesar da pausa nos campeonatos regionais e no Brasileirão, dificilmente escaparemos desse tipo de propaganda nos próximos meses. Dos 20 times que jogaram a série A do Campeonato Brasileiro de 2022, dezoito são patrocinadores por sites de aposta.
O mercado global de apostas esportivas é parrudo. O setor movimenta, segundo levantamento da Grand View Research, cerca de US$ 59 bilhões por ano. Em 2027, esse valor pode chegar a mais de US$ 127 bilhões. Só no Brasil, são R$ 7 bilhões anuais, valor que mais do que dobrou desde 2018, quando ainda estava na casa dos R$ 2 bilhões.
“E qual é o problema disso?”, você pode estar se perguntando. Usar essas plataformas é apenas mais uma forma de se divertir e investir, certo? Há, inclusive, quem se refira às apostas como “investimentos esportivos” ou “trading esportivo”. Tudo muito inocente, aparentemente. No entanto, esse tipo de operação não é investimento.
Apostas esportivas não são investimentos
A aposta esportiva ou não, segundo Lai Santiago, educadora financeira da fintech de crédito Open Co, não pode ser considerada um investimento. “Isso porque um investimento tem por princípio a existência de fundamentos econômicos. Você tem também uma expectativa de retorno específica”, afirma Lai.
“Ainda que dentro do universo da bolsa de valores, por exemplo, em que você tem uma certa volatilidade , você está investindo em fundamentos econômicos de uma empresa”, explica.
No caso da aposta, Lai continua, “ela não tem garantia alguma de ter retorno”.
O fator sorte
Existe alguma diferença entre a sorte e a volatilidade ? “A sorte independe de fatores concretos, enquanto a volatilidade mostra para a gente um padrão, um comportamento esperado e muito claro, daquela ação, companhia ou organização” diz Lai Santiago.
Portanto, investimentos envolvem estratégia. E sorte tem a ver com acaso.
“Então, quando estou aplicando em ações, tenho uma expectativa de retorno e volatilidade específicas. Caso eu faça uma retirada no curto prazo, posso ter um risco muito alto de perder o dinheiro. E por que isso é diferente de eu ir lá e perder o dinheiro numa aposta? Porque quando eu estou investindo numa ação de uma empresa, ela tem momentos de deslizes. Mas, no longo prazo, quando a gente escolhe bons papéis dentro do mercado financeiro, a tendência é que no longo prazo a gente tenha um prêmio por ter se aberto ao risco”.
E Lai vai mais longe: “Ainda que a volatilidade mostre uma expectativa de desvio-padrão no curto prazo, no longo prazo, a gente tem uma expectativa de retorno mais provável do que a probabilidade de uma aposta”, explica.
Portanto, a questão do tempo é preponderante na diferença entre apostas e investimentos. “Na aposta, tenho um intervalo muito curto para tomar essas decisões.”
Quando apostar se torna um vício: o transtorno do jogo
Segundo Cirilo Tissot, médico psiquiatra especialista no tratamento de compulsões por drogas químicas, games e compras, um dos problemas com as apostas esportivas – e qualquer outro tipo de aposta – é que “ganhar tem uma certa característica aleatória”. Elas oferecem à pessoa “um reforço intermitente: você não sabe quanto você vai ganhar ou não, principalmente no jogo de azar”.
Mas psiquiatra deixa claro “que não necessariamente isso faz com que a pessoa se vicie”. Aliás, o vício em jogos é uma condição psiquiátrica conhecida, chamada de transtorno do jogo ou jogo patológico. O que, então, faz com que alguém se vicie em apostas esportivas?
De acordo com Tissot, os homens estão mais predispostos a desenvolver esse vício do que as mulheres. Mas elas também apresentam alto risco, especialmente depois dos 40 anos.
O segundo fator de risco é estar com baixa autoestima, diz o médico. E em terceiro lugar estão complicações de ordem econômica, que fazem com que a pessoa “queira ganhar dinheiro rápido”.
E ainda: quem é impulsivo apresenta um risco extra, já que “o transtorno está diretamente ligado” a essa característica, explica Tissot. Esses indivíduos têm grande risco de desenvolver o vício por apostas, sejam elas esportivas ou não.
E como perceber se alguém está viciado em apostas?
Quando a pessoa prioriza isso as apostas em detrimento de todas as outras coisas. “Pensar na aposta é maior do que qualquer outro compromisso social. A pessoa perde muito tempo pensando no próximo jogo, jogando e se recuperando da ressaca”, afirma o psiquiatra.