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Geral Sentença de julgamento da Air France e da Airbus só será divulgada em abril de 2023; 288 pessoas morreram no acidente, entre elas 58 brasileiros

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Em 2009, o avião AF447 caiu no Oceano Atlântico, quase quatro horas depois de decolar do Rio de Janeiro. (Foto: Divulgação)

A decisão da Justiça francesa de adiar para abril o acórdão sobre o caso do acidente com o avião da Air France que vitimou os 288 ocupantes, em junho de 2009, desagradou a familiares das vítimas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo. Para eles, serão pelo menos mais quatro meses de expectativa para que possam, finalmente, ter o reconhecimento ou não da culpa das empresas. Conforme agências europeias, a presidente do coletivo de juízes, Sylvie Daunis, anunciou que a data da leitura do acórdão foi marcada para as 13h30min (hora de Paris) de 17 de abril próximo.

Para Sylvain Owondo, morador do Rio de Janeiro que perdeu o pai, Joseph Owondo, no acidente, será mais uma espera angustiante. “Sabemos que as empresas tiveram culpa. A Air France, inclusive, já nos indenizou. O que esperamos é que a Airbus também seja responsabilizada pelas mortes”, disse. O vendedor Vinicius Gusmão de Almeida, de 34 anos, que perdeu a mãe, Valnizia Gusmão de Oliveira, lamentou o adiamento. “Quanto mais espera, mais tempo de agonia e sofrimento. No fim, quem vai dar o último veredito é Deus”, disse o também morador do Rio.

A fase final do julgamento, nos dois últimos meses, ficou marcada pela posição do Ministério Público francês de se opor ao pedido de condenação da Air France e da Airbus pelo crime de homicídio por negligência, por entender que isso seria impossível de se provar. Os juízes devem decidir se o acidente resultou da falta de preparação dos pilotos, o que caberia à Air France, de uma falha no dispositivo de medição de velocidade, de responsabilidade da Airbus, ou se os dois fatores tiveram influência. Os juízes não são obrigados a seguir o parecer do MP.

O presidente da Associação de Famílias de Vítimas do Voo AF447, Nelson Faria Marinho, que perdeu um filho de 40 anos no acidente, ainda esperava informações oficiais sobre a nova data da sentença, mas disse não ter muita esperança de que a Justiça francesa reconheça que houve falha no avião. “Não acredito muito porque é como a raposa tomar conta do galinheiro. A Justiça da França julgando empresas francesas. O governo brasileiro tinha o direito de investigar o acidente, mas deixou por conta dos franceses”, disse.

O filho de Marinho, que também se chamava Nelson, viajava a trabalho para Angola, na África, no voo fatídico. Ele lembrou que os problemas com aquele modelo de avião remontam a 1988, quando ocorreu a primeira tragédia no voo 296, da Air France, em que morreram três pessoas e outras 50 ficaram feridas. “Naquela ocasião, o piloto relatou problemas de natureza eletro-eletrônica, em razão de ser um avião excessivamente automatizado, problemas que até hoje não foram solucionados”, disse.

Para Marinho, a Justiça francesa precisa ter a mesma firmeza que a americana, que condenou a Boeing a pagar US$ 12 milhões aos familiares das 157 vítimas de um acidente com a aeronave 737 Max, ocorrido em 2019. “Espero que as famílias sejam indenizadas e que a Justiça reconheça que o avião tinha um defeito de fabricação. Quando estive em Paris após o acidente, conversei com 30 pilotos e todos disseram que o avião tinha problemas. A Air France indenizou algumas famílias, mas a fabricante do avião (Airbus) não indenizou ninguém.”

O avião da Air France transportava passageiros de 33 nacionalidades, entre eles 61 franceses, 58 brasileiros, 28 alemães, 9 italianos e 2 espanhóis. Ao todo, 476 familiares se habilitaram como partes civis no processo levado a julgamento. A 31ª Câmara Criminal de Paris ouviu técnicos e especialistas para determinar se a companhia aérea ou a fabricante do avião cometeram erros que poderiam ter contribuído para a tragédia. Relatórios já apontaram que o congelamento das sondas de velocidade (tubos de Pitot) causou um distúrbio no controle da velocidade do Airbus A330, deixando os pilotos sem controle do avião.

Conforme o advogado Rodrigo da Silva Schumacker, que representa parte das famílias das vítimas, o tribunal de recurso revogou o arquivamento anterior do processo por haver indícios de que a Air France não forneceu o treinamento adequado ou as informações necessárias para que os pilotos pudessem reagir à possível falha técnica. A Airbus teria subestimado a gravidade das falhas nas sondas de velocidade e não tomado as medidas para informar as tripulações de forma eficaz. Segundo ele, as falhas nesses equipamentos já ocorreram em voos anteriores.

Às 19h do dia 31 de maio de 2009, o Airbus A330 da Air France partiu do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio, com destino a Paris. O AF447, um voo regular de longo curso, que levava 228 pessoas a bordo, nunca chegou ao seu destino. A aeronave caiu no Oceano Atlântico sem deixar sobreviventes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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