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Ali Klemt Ultrapassagem permitida

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(Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Uma das grandes, enormes dificuldades da vida é ser ultrapassado. E, não, eu não estou falando de carros em pista simples realizando manobras para chegar alguns minutos antes no destino: eu falo das ultrapassagens da vida. 

Envelhecer não é fácil, mas é, definitivamente, a única forma de não morrer jovem. Mas ninguém avisou que seria fácil, e a gente somente começa a aprender essa “matéria” no segundo tempo da partida (sim, essa influência da Copa do Mundo me leva a fazer relações futebolísticas com tudo). Enfim, enquanto somos jovens adultos descompromissados, não nos damos conta disso. Com a idade – a maturidade, os filhos, os boletos, a dor nas juntas e os fios brancos – começamos a perceber que, puxa, não estamos ficando mais jovens! Ó, céus! 

Pois eu nunca fui atleta, mas sempre fui uma aluna concentrada e, principalmente, responsável. O que significa que a minha evolução no tênis vem sendo consistente, efetiva. Isso, porém, não me faz um prodígio do esporte. Ao contrário, preciso compensar o fato de que não dediquei a minha vida à coordenação motora e à inteligência espacial com a minha entrega em aprender os movimentos. Retomei ao jogo na pandemia, a fim de evitar ficar parada (o sedentarismo é um mal terrível para a saúde!), e trouxe o Thomas, meu filho mais velho, comigo. À época, um menino de sete aninhos. Apesar de sempre mostrar atributos atléticos (puxou ao pai, admito), ele era apenas uma criança. 

Ocorre que a criança é a materialização da passagem do tempo. Podemos não percebê-lo fluir em nossas células, mas ao olhar para uma criança depois de anos sem vê-la, o choque é inevitável. Está ali a prova de que o tempo passa. 

E foi assim que percebi que o meu filho me ultrapassou. Aos dez anos, pré-adolescente, mas ainda franzino, esse menino é uma “formiga atômica” na quadra. E se comecei orientando e, até mesmo, me exibindo um pouquinho (“olha, filho, como a mãe faz”), caí na real que a parte fraca da dupla virou… eu!

Evidentemente, eu morro de orgulho. Mas a questão aqui não é o fato de eu ser uma mãe babona: é a percepção de que fiquei pra trás. Ele me superou. Ele tem mais velocidade, mais habilidade, pensa mais rápido e tem mais visão de jogo. Tudo isso junto misturado. E é uma realidade que preciso enfrentar. 

O que vai mudar nos meus jogos de tênis? Ora, para mim, nada! Mas imagino o quão difícil é para atletas ao concluírem que seus corpos não respondem mais como faziam antes, e terem que “tirar o time de campo” para dar espaço aos novos talentos. Deve doer, e obviamente não ocorre apenas no esporte – embora essa seja, talvez, a parte mais visível. Nas empresas, nas famílias, nos negócios… sempre haverá alguém cheio de vida para tomar o seu próprio espaço. E como poderia ser diferente? 

A questão é que ser ultrapassado não é um problema, a não ser que se dispute o mesmo espaço. A maturidade traz habilidades que… bem, que só os anos te dão. Experiência, tolerância, equilíbrio emocional. Sabedoria, visão global. Paciência e estratégia. Quem investir nessas skills nem sempre precisa se preocupar com velocidade e força. 

E talvez essa seja a verdadeira beleza da vida… tudo tem seu tempo. E, no seu devido momento, ser ultrapassado talvez nos permita olhar pela janela com serenidade suficiente para olhar a paisagem e curtir outras belezas do trajeto.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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