Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 13 de dezembro de 2022
Fala se dá por um contexto político e que interessa ao Partido dos Trabalhadores (PT), uma vez que, parte de seu quadro é formado por servidores públicos
Foto: Ricardo Stuckert/DivulgaçãoEm entrevista coletiva do Gabinete de Transição na tarde desta terça-feira (13), o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que “acabaram as privatizações no país”. “Vão acabar as privatizações nesse país. Já privatizaram quase tudo. Vai acabar, e nós vamos mostrar que algumas empresas públicas vão poder mostrar a sua rentabilidade”, declarou.
Para economistas consultados pela CNN, a fala não é uma surpresa, mas sinaliza uma radicalização do discurso da política econômica e ainda deixa dúvidas de como a agenda de Parcerias Públicas-Privadas (PPPs) e concessões deve ser administrada no futuro governo petista. A declaração de Lula demonstra que “Lula de agora está muito distante do Lula do 1° turno, que foi um Lula com uma postura econômica muito razoável. Ele está se aproximando do governo Dilma que foi um desastre”, avaliou o ex-diretor do Banco Central (BC), Luiz Fernando Figueiredo.
Sem surpresa
Para a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, a fala de Lula sobre privatizações não é surpresa. “Era esperado do PT que ele não fosse se desfazer de nenhum controle estatal; o uso das estatais para desenvolvimento foi amplo nos governos petistas”, disse ela. Após a fala do presidente eleito, o mercado reagiu. O Ibovespa encerrou nesta terça-feira em queda de 1,71%, aos 103.539,67 pontos.
Contexto interessante
Segundo Murilo Viana, especialista em Finanças Públicas, a fala se dá por um contexto político e que interessa ao Partido dos Trabalhadores (PT), uma vez que, parte de seu quadro é formado por servidores públicos. Para ele,, temas como as privatizações e a reforma administrativa são o “calcanhar de Aquiles” para o presidente eleito.
Figueiredo lembra que os sinais dados por Lula e por sua equipe de transição vão no sentido oposto do centro, justamente a base que o elegeu como presidente da República no segundo turno das eleições. “O tamanho da PEC [da Transição] se distancia da sustentabilidade fiscal. Agora, ele dizendo isso, um modelo de estado maior, mais intervencionista. Os sinais são mais para um lado radical e menos para um lado de centro, que foi a base que colocou ele como presidente”, disse o ex-diretor do BC.
Para Viana, existe ainda um receio por parte do mercado financeiro com relação aos modelos que o novo governo deve adotar com relação às parcerias público-privadas (PPPs) e com as concessões, caso forem feitas. Segundo ele, o então ministro da Infraestrutura no governo de Jair Bolsonaro (PL), Tarcísio de Freitas, possuía uma agenda clara tanto de privatizações como também de concessões e PPPs.
Concessões
Para Vitória, expectativa, agora, é ver como andará a agenda de concessões, como as de rodovias e ferrovias, que, de acordo com a economista, devem continuar. “Mas há uma diferença entre a privatização, que é a venda da empresa, e as concessões, e nós esperamos que as concessões continuem”, disse.
“Tanto Lula quanto Dilma fizeram muitas concessões, de aeroportos e rodovias, por exemplo, e elas são um caminho importante para trazer recursos do setor privado, para o setor de infraestrutura, que o poder público não tem” avalia a economista do Inter.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados e analista de Economia da CNN, acompanha a opinião de Vitória sobre as concessões. “De certa forma, já era esperada essa posição. Nada será privatizado de fato, mas espero que pelo menos as concessões sigam acontecendo. Se isso também for paralisado será muito grave.”