Sábado, 11 de janeiro de 2025
Por Edson Bündchen | 22 de dezembro de 2022
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
É muito difícil, no atual momento que vivemos, obter análises da realidade que pesem os prós e os contras, que vejam virtudes e defeitos, que sejam capazes de enxergar a realidade de forma isenta e que sejam sensatas e equilibradas. Em vez disso, assistimos a um festival de certezas embaladas numa vassalagem sem freios ao sectarismo e à intolerância. Nesse ambiente, muitas pessoas preferem o aconchego de suas bolhas, o abrigo morno dos casulos amistosos e fraternos da internet, fechados para o contraditório, mesmo ao custo assumido de uma visão estereotipada, limitada, e muitas vezes fantasiosa. Mas ali, no conforto do eco de suas próprias vozes, não há ninguém para contestar “a verdade”, não existem incertezas ou dúvidas, mas somente a fé de que existe um único caminho, messiânico e certo, que separa o bem do mal, a mentira da verdade. Nesse mundo imaginário, as opiniões não são contestadas ou contrariadas, não há diálogo, somente convicções. Isso pode ser falsamente interpretado como uma nova e democrática forma de comunicação virtual, mas de fato converteu-se num veneno para a própria democracia e para a sociedade de modo geral. É nesse ecossistema da desinformação que muitos disseminam ataques contra as instituições, impondo à justiça brasileira o indelegável trabalho de contenção desses arroubos inconsequentes.
Nos EUA, por exemplo, milhares de americanos foram instados a invadir o Capitólio através das redes sociais, mais especificamente pelo Twitter de Donald Trump, o improvável presidente que quase levou ao colapso a maior democracia do planeta. Depois desse ataque sem precedentes, 964 pessoas já foram detidas e acusadas de crimes e 465 fizeram acordos e se declararam culpadas. Os julgamentos dos líderes que disseminaram desinformação já começaram e ocorreram duas condenações por conspiração. No Brasil, mesmo antes da mudança de governo, vândalos incendiaram veículos e promoveram uma grande baderna na capital da República, indicando a gravidade do atual momento político que vivemos. Como uma espécie de última trincheira para conter atos radicais contra a democracia, o TSE tem atuado com agilidade e firmeza. O rigor das ações para prevenir atitudes antidemocráticas reveste-se de justificada cautela contra as ações de insurreição e ataque às instituições, uma vez que o risco à democracia é real, embora venha travestido sob a justificativa de defesa da liberdade de expressão, na verdade uma espécie de biombo a abrigar objetivos camuflados nas injúrias ao estado democrático de direito.
Aliás, o uso da liberdade de expressão como fundamento para minar as instituições é uma tática que, se não bem compreendida, pode destruir a ordem institucional. Assim, o agir resoluto do TSE, confundido por tirania por alguns, de fato se converte numa ação preventiva contra aqueles que agridem a democracia, promovem a baderna e espalham mentiras. Quando punidos, os infratores usam a estratégia de inverter a culpa: o tirano passa a ser quem protege o estado de direito. Como o TSE e, particularmente o Ministro Alexandre de Moraes perceberam essa manobra, as punições em curso possuem um caráter pedagógico, ao desencorajar novos tumultos e sinalizar ser a preservação da democracia uma condição inegociável para o futuro da Nação. O País precisa passar a olhar para seus verdadeiros problemas, que são muitos, e não pode ficar refém de uma minoria que não compreende os limites de viver em sociedade e sob a égide da Constituição, do império da Lei e da ordem democrática. Os inconformados devem entender que há espaço, dentro da legalidade, para que se faça uma oposição responsável, para que se proteste dentro dos limites legais e que não se cogite nenhum tipo de ação que não seja a estrita observância dos fundamentos legais já estabelecidos. A valiosa lição dada pelos americanos no tratamento ao episódio do Capitólio nos mostra que é impossível agredir a democracia sem se sujeitar aos rigores da Lei. Tomara que essa lição seja bem apreendida por aqui.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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