Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 5 de janeiro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Manhã de domingo, quase na hora da final Argentina x França. Copa do Mundo de 2022. Acordei ainda inconformado com as notícias que ontem li na imprensa francesa. Um dos periódicos franceses, “L´Equipe”, estampou aquela famosa foto de Pelé na copa de 70, abraçado por Jairzinho, socando o ar, ao lado de Mbappé, imitando o mesmo gesto, 52 anos depois, abraçado pelo goleador Giroud em recente jogo da seleção francesa.
Os franceses não perderam tempo. Aproveitaram a mera coincidência de que em 1962, quando bicampeão mundial, Pelé tinha 22 anos, com os 23 que tem Mbappé, e a possibilidade de se igualar ao brasileiro em títulos mundiais, para sugerir que tudo é muito parecido.
Meus caros… Essa conversa não vale um croissant, nem um macaron! Afora a idade, uma certa semelhança física (embora o francês seja mais parecido com o Robinho), o tom da cor, a camisa 10, o nome ser facilmente pronunciado por bebês, e o fato de os dois terem nascido em subúrbios, dificilmente aparecerá alguém igual a Pelé.
É claro que Mbappé é um craque. Mas primeiro tem que ser comparado aos franceses Zidane e Platini. Que já foram comparados a Pelé e não deu certo. E até porque Zidane é melhor que Platini, que é melhor que Mbappé. Depois tem que ser comparado a Cristiano Ronaldo, que também não chega aos pés de Pelé. E ainda tem que ser colocado frente a Messi, onde a parada também é muito difícil, porque Messi não é Maradona, que, desculpem Hermanos, se aproxima mas não supera o Rei Pelé.
O máximo das concessões que faço com Mbappé, e com muito boa vontade, é colocá-lo, com muita parcimônia, numa prateleira abaixo das que estão Falcão, Ronaldinho Gaúcho, Zico, Sócrates, Rivaldo e Romário. E não me venham com essa de posições. Depois do Brasil de Zagalo, Tri Campeão de 70, isso não importa mais: O único atacante de ofício era o Jairzinho. Rivelino, Pelé, Clodoaldo e Tostão eram meio campistas. E Tostão jogou com a 9 tendo pouco mais de um metro e setenta de altura…
Dificilmente aparecerá alguém igual a Pelé. Não há nenhum exagero na frase. Foi campeão do mundo com o Brasil com 18 anos, ganhou tudo, fez mais de 1000 gols (1091 em 1116 jogos para ser exato), imortalizou seu clube do coração, o Santos (onde jogou 18 anos, coisa que não se vê mais), e mais tarde difundiu o futebol nos Estados Unidos, quando vendido ao Cosmos. Egresso de um tempo em que se jogava futebol com chuteira de pregos e bola de couro costurada à mão, Pelé talvez seja o único jogador que se adaptaria ao futebol de imposição física praticado hoje. Mais que um jogador, era um atleta de futebol.
Quando jovem, tive o privilégio de vê-lo jogar ao vivo duas vezes. Uma no Maracanã, num Vasco x Santos, onde fui com o Fernando e o Binho Medeiros, levados pelo João Tavares, e outra num Inter x Santos no Beira Rio, junto com meu pai. Em ambas o Rei movimentou o placar. Uma pena que foi pouco, pois na copa do mundo de 74 eu tinha 10 anos e o Pelé já tinha se despedido da seleção.
Mas recomendo para todas as gerações, mesmo para os não tão ligados em futebol que, dentre vários filmes e documentários, assistam “Pelé Eterno”. É emocionante. O cara chutava com os dois pés e fazia gol de tudo quanto era jeito. Cabeceava, cobrava faltas, batia pênaltis, dava bicicletas, enfileirava adversários a dribles e colocava seus companheiros na frente do gol.
Uma cena desse documentário traz uma entrevista com vários colegas de Pelé que falam sobre um gol do Rei contra um time do interior paulista, num estádio modesto. Pelé sai do campo de defesa em direção ao gol adversário, driblando quase todo o time rival e entra com bola e tudo. Não há imagens. O gol foi reconstituído por computação.
Outra passagem muito boa, é quando Pelé estava prestes a fazer o gol 1000, que acabou sendo de pênalti contra o Vasco no Maracanã. Pelé estava com 999 gols e o Santos percorria o Brasil jogando contra os mais variados adversários. Poderia ser no interior do interior. Sempre recorde de público e a torcida local gritando por Pelé, pois queria assistir o milésimo gol do Rei, mesmo que contra seu próprio time.
Então, meu caro Francês, façamos um trato: Espumante não é Champagne. Bem-Casado não é macaron. Media luna não é croissant.
Mas Mbappé também não é Pelé.
Emílio Papaléo Zin – advogado e ex-vice de futebol do Inter
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