Sexta-feira, 01 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 1 de fevereiro de 2023
Durante a pandemia, a estilista Angèle Fróes, de 59 anos, deixou o cabelo seguir seu fluxo natural. Bastou ela voltar a ter vida social para todos os amigos observarem, e elogiarem, o novo comprimento e o shape supercacheado. “É curioso. Quando era jovem, achava que depois dos 50 não teria mais cabelão. E aqui estou eu”, diz.
No fim de 2022, uma declaração da estilista Carolina Herrera, de que “apenas mulheres sem classe mantêm os cabelos longos após os 40 anos”, viralizou nas redes sociais — e foi rebatida com veemência. Na contramão da afirmação da designer, mulheres símbolos de elegância, como a modelo francesa Caroline de Maigret, de 47 nos, desfilam de cabelo comprido e até de franjinha. O poder de escolha também subiu à cabeça: deixar os fios longos e brancos não pode ser (mais) uma obrigação.
É o caso de Angèle. “Não assumo mesmo”, admite ela, que os tinge em casa. “Acho que eu ficaria hippie demais, meio abandonada. Mas tenho amigas que estão lindas grisalhas. Tem de fazer o que se quiser.” A antropóloga Mirian Goldenberg enxerga um paradoxo ocorrido na pandemia: “A ‘prisão’ (imposta pelo isolamento) acelerou essa revolução estética, que é libertadora”, avalia.
Outra adepta do cabelo longo é a artista plástica Gabriela Machado. Ela, que está “na faixa dos 60”, mantém o cabelo quase na cintura. “Meu corpo corresponde à minha forma de viver. Como sou muito conectada com o mar, sinto-me bem de cabelo comprido, surfando, nadando. A partir disso, vem a minha pintura”, reflete Gabriela, que, de vez em quando, faz balayage.
Já a modelo Zilma Oliveira, de 53, preferiu o combo completo: o último corte no cabelo foi em 2019, justamente por causa dos fios brancos. “Aí ele foi crescendo e eu, deixando. Adoro sentir o meu cabelo, pegá-lo. É versátil e retrata a minha personalidade”, pondera. O hair stylist Fil Freitas refuta imposições. “O cabelo ideal é igual à roupa, é aquele que te veste melhor.”
A gestora cultural Cristina Becker, de 63 anos, era adepta do corte à la Marilyn, bem curtinho. “Minha trip era essa”, lembra. Mas aí veio a pandemia e certos hábitos foram sendo deixados de lado. “Foi tomando essa proporção e esse tom”, explica ela, que, desde então, só tira as pontas. “Eu me sinto mais leve e atraente. Dá também um senso de liberdade. Mas tem de investir um tempo, exige cuidados”, observa. Deixar o cabelo florescer foi tão revolucionário que Cristina abandonou a velha atividade — ela foi, por vinte anos, diretora de artes do British Council — e se tornou modelo e locutora. “Sempre quebrei todas as regras. Isso me dá uma motivação danada.”