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Política Políticos indicaram comandantes da PM do Distrito Federal, o que pode ter contribuído para as falhas de segurança

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As sedes dos Três Poderes foram invadidas e depredadas durante os atos antidemocráticos. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O interventor federal na segurança pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, disse em entrevista ao jornal O Globo que identificou indicações políticas para a chefia de batalhões da Polícia Militar da capital. Segundo ele, essa situação prejudicou o trabalho do comandante da corporação, coronel Fábio Augusto Vieira, que está preso por suspeita de omissão, e pode ter contribuído para as falhas de segurança que facilitaram os ataques às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro.

Cappelli confirmou que há suspeitas de que o comandante de ao menos um batalhão teria sido indicado por pressão de um deputado distrital. Ele não revela os nomes dos personagens e nem a unidade da PM a qual se refere sob argumento de que o caso está sendo investigado. Ainda segundo Cappelli, a apuração indica que o comandante da PM tentou combater as invasões, mas seus pedidos não eram atendidos.

“Ele (coronal Fábio Augusto) perde o comando da tropa. Ele passa a manhã inteira pedindo: ‘Cadê a Cavalaria? Cadê o Batalhão de Choque?’ E os caras falando para ele: ‘está indo’. E não chegaram nunca. Ele perdeu a capacidade de comando. Isso é um problema dele, mas também é um problema da política”, disse o interventor.

Ricardo Cappelli descreve como a influência política compromete a eficiência do trabalho da polícia.

“Cada político vai indicando o chefe de um batalhão e um sub-comando. Aí o policial não respeita aquela hierarquia, mas sim o político que o indicou. Se o comandante ameaça exonerá-lo, ele se sente amparado pelo deputado que o indicou. Quando a política entra no quartel, acabou, não há hierarquia que se sustente.”

Por ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes, o ex-comandante Fábio Augusto foi afastado do cargo e está preso desde o dia 11 de janeiro. O interventor afirma que ele atuou para conter a invasão no Congresso Nacional e chegou a ser ferido na cabeça por cones arremessados por golpistas. A defesa do coronel já entrou com pedido no Supremo para libertá-lo sob o argumento de que ele usou “de todos os meios de ação então disponíveis para evitar” a invasão.

As conclusões foram feitas por Cappelli com base em depoimentos de policiais e imagens de câmeras de segurança analisadas nos 23 dias em que esteve à frente da segurança pública do DF. Parte dessas informações consta no relatório entregue na última sexta-feira ao ministro do STF Alexandre de Moraes. Outra parte foi remetida ao magistrado nesta terça em um relatório sigiloso produzido pela Corregedoria da Polícia Militar do DF.

Deflagrada após os atos extremistas de 8 de janeiro, a intervenção federal se encerrou na última terça (31). Ao se debruçar durante pouco mais de três semanas sobre os elementos que culminaram nos ataques, o interventor diz estar convencido de que não ocorreu um golpe de Estado porque as Forças Armadas não aderiram à investida golpista.

“O golpe não aconteceu porque os militares do Alto Comando não aderiram à conspiração golpista”, resume.

Com o fim da intervenção, Cappelli volta a ser o número dois do Ministério da Justiça. Antes, porém, passa ao novo secretário de segurança do DF, o delegado da Polícia Federal Sandro Avelar, a tarefa de separar o “joio do trigo” nas forças de segurança da capital, segundo as suas palavras.

Paralelamente, enquanto esteve à frente da pasta, Cappelli também subsidiou de informações a Polícia Federal, que avança nas investigações sobre as autoridades envolvidas nos atos golpistas. A principal delas até o momento é o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres, que está preso desde o dia 14 de janeiro por determinação do ministro Moraes.

No relatório da intervenção, Cappelli dedica um capítulo específico a descrever a atuação — e suposta omissão — de Torres, que também foi ministro da Justiça durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O maior indício de omissão levantado contra ele está encorado em um comunicado de inteligência encaminhado ao seu gabinete na tarde de 6 de janeiro — dois dias antes dos atos golpistas. O documento relatava “divulgações alarmantes” sobre um plano de “tomada de poder” com “invasão ao Congresso Nacional”.

“Foi entregue no gabinete dele. Torres já estava viajando (de férias para os Estados Unidos), mas o secretário ainda era ele. Ele tinha 48 horas para deflagrar um plano operacional, mas não o fez”, afirmou Cappelli.

“Torres é uma peça central da conspiração, não tenho dúvidas disso”, afirmou o interventor.

Na terça, Cappelli já retomou o seu trabalho como secretário-executivo do ministério da Justiça. Da sua sala no terceiro andar do Palácio da Justiça, é possível ver as sedes do Planalto e do Congresso, que foram invadidos e depredados no dia 8 de janeiro. Após transmitir a gestão das forças de segurança do DF, ele diz não acreditar em novos ataques – e muito menos em coincidências.

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