Terça-feira, 19 de novembro de 2024
Por Edson Bündchen | 9 de fevereiro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
No mundo da economia, há a triste constatação de que o Brasil envelheceu antes de ficar rico. Diferente de muitos países hoje prósperos e que tiveram a diligência de enriquecer mais rapidamente que o fim de suas janelas demográficas, nosso País assiste ao envelhecimento da população sem ter alcançado um estágio de desenvolvimento econômico e social que lhe permita imaginar um futuro com menos sobressaltos. Ao contrário, estudos indicam que a previdência social terá que ser reformada ainda algumas vezes, até que as aposentadorias não se convertam num pesadelo para os atuais trabalhadores. Se, na questão previdenciária, o quadro é sombrio por conta de desmandos e gestões incompetentes, no terreno da educação os sinais não são mais promissores. O analfabetismo funcional graça entre nós, e a distância entre os requisitos que a sociedade cibernética impõe aos trabalhadores e a realidade observada, transforma a urgência por uma revolução na educação um imperativo para quaisquer que sejam os governos. Trata-se, sem dúvida, de uma agenda que deveria pairar muito acima de eventuais querelas ideológicas, mas que ainda está longe de ser um princípio unificador de vontades.
E essa cultura pós-moderna que vem sendo moldada, conforme acentua Domenico de Masi, cristaliza-se nas ideias, na linguagem, nos estereótipos, na estética, assim como nas manifestações de poder, nos hábitos e nos costumes, nos fatores de coesão e de conflito, estando inevitavelmente imbrincada com o processo educacional. A recuperação da emotividade unida à racionalidade, na conformação da energia criativa movida à inovação, configura-se no motor da economia moderna. Não há como dissociar o desenvolvimento de uma nação do seu processo educacional. A emergência do “smart working”, é um exemplo da transformação em curso e não pode prescindir de um processo antecedente, de uma educação contemporânea do seu tempo, adequada e inserida nas novas linguagens, sem a qual o encaixe no trabalho moderno fica comprometido, afetando não somente a produtividade, mas a própria condição humanizadora que as novas configurações laborais projetam.
É também sob essa perspectiva ampliada que a sociedade como um todo terá que se juntar ao esforço de valorização do ensino, uma vez que somos um País que não enxerga na educação, verdadeiramente, um caminho para o desenvolvimento. Precisamos superar não apenas a indulgência com a deseducação, mas o trágico elogio à ignorância, onde muitos se jactam da própria burrice, enaltecendo o não saber, perpetuando uma visão tacanha e obtusa de mundo, que tem tudo a ver com nossa atual indigência intelectual, bem como com o aviltamento de nossas discussões políticas, cevando o campo para apologias de cunho autoritário, cuja nutrição deriva, em grande medida, do anacronismo e da falta de arejamento intelectual.
O obscurantismo educacional é, portanto, uma ameaça não apenas econômica, mas civilizacional, uma vez que sua arrogância compromete a compreensão de sua própria ignorância. A partir desse erro original, dessa presunção autossuficiente, começa a vicejar um conjunto de narrativas sem compromisso com a ciência ou a verdade. Como, então, sair desse estado catatônico que nos convida a elogiar e aplaudir o não saber ou assumir a soberba dos iletrados como um destino inescapável, quando não terreno para discursos de ódio e intolerância? Neste momento, o desafio básico e angular de repensar a nossa educação, adquire uma nova dramaticidade, devido à necessidade de acoplar aos saberes práticos, muitos deles emergentes de uma rápida transformação tecnológica, uma educação para a civilidade, para a cidadania e para o conhecimento e a valorização das instituições que sustentam a nossa democracia. Para esse futuro próximo que de desenha, não há espaço para vacilos. Ou o Brasil abraça um projeto emancipatório para nossos jovens através da educação, inserindo-os nesse novo milênio, ou continuaremos a patinar no gelo fino e instável de nossa eterna procrastinação dos grandes temas nacionais.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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