Terça-feira, 19 de novembro de 2024
Por Tito Guarniere | 4 de março de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Os textos curtos das redes sociais têm o seu valor. Talvez o maior deles seja o de obrigar o autor a ser conciso, a dizer o máximo no menor espaço e uso de caracteres: a concisão é uma virtude de estilo, desde que se consiga a façanha de se fazer entender, de ser claro no que pretende passar.
Mas tem um problema. Não há nenhum tema que não comporte um contraponto, uma versão contrária, um outro ponto de vista. Assim, se o caro leitor quiser – de verdade – ter um entendimento razoável a respeito de um assunto, seja lá o que for, é preciso ir além dos 280 caracteres do Twitter.
Este articulista é um leitor obsessivo, por gosto pessoal, e porque, querendo estar bem informado, evitando embarcar em teorias simples porém erradas, detestando fakes e vulgaridades, dá uma boa passada de olhos nos grandes jornais diários – Folha, Estadão, Globo. Não tenho nenhum preconceito contra a grande imprensa e, ao contrário, tenho-a na conta de prestar um enorme serviço de interesse público, e de um pilar básico da boa informação e da democracia.
Meu modelo de liberdade de imprensa é a imprensa brasileira. Modelo perfeito? Não. Nada e ninguém é perfeito. Mas um país que se queira dizer democrático deve ter um modelo de imprensa igual ou muito parecido com o Brasil. Um país sem jornais como a Folha, Estadão e Globo, e só com redes sociais, ficaria mais burro do que já é e seria uma calamidade completa.
As hordas militantes, na esquerda e na direita, têm por costume atribuir à imprensa, assim como ela é no Brasil, as mais abjetas intenções, uma vez que supostamente sempre expressa um combate (ainda que meio dissimulado) às suas próprias concepções. Nos arraiais de Bolsonaro e Lula é dominante a impressão de que a imprensa tradicional só existe pata criticar e prejudicar as causas respectivas, aquelas destinadas à missão gloriosa de salvar o Brasil e às vezes o mundo.
A imprensa livre, plural e aberta à iniciativa da sociedade, da cidadania, de quem tiver disposição e capacidade, não é necessariamente a garantia da informação honesta, mas tende a assegurar a busca permanente de um noticiário e uma linha editorial confiável e de qualidade, permitindo aos leitores um leque de escolhas – qual a abordagem mais coerente, profissional, genuína e conscienciosa.
É infantil esperar que os grandes jornais e meios de comunicação somente veiculem informações de interesse das facções do embate político. É como esperar que os juízes do Supremo Tribunal Federal decidam sempre ao nosso gosto e preferência. É fácil detestar Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, mas é comum que eles tomem decisões coincidentes com os pontos de vista dos seus críticos.
Pior ainda é a expectativa de que uma imprensa oficial, como a Empresa Brasil de Comunicação-EBC, criada por Lula e usada exaustivamente depois por Bolsonaro (que havia prometido fechá-la), dê conta de informar honestamente o distinto público. Governos têm necessidade de mentir como nós temos a necessidade de respirar. Imprensa livre é, acima de tudo, oposição. O resto é, como dizia Millôr Fernandes, armazém de secos e molhados.
titoguarniere@terra.com.br
Twitter: @TitoGuarnieree
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.