Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 6 de março de 2023
Funcionários e ex-funcionários do Twitter disseram à BBC News que a empresa não é mais capaz de proteger os usuários de assédio, desinformação coordenada e exploração sexual infantil após as demissões e mudanças feitas pelo novo proprietário, Elon Musk.
Dados acadêmicos exclusivos e testemunhos de usuários do Twitter apoiam suas alegações, sugerindo que o discurso de ódio está crescendo sob a liderança de Musk, com intensificação do assédio e um aumento de contas que seguem perfis misóginos e abusivos.
Dezenas de funcionários e ex-funcionários da empresa afirmaram à BBC que está difícil manter o funcionamento dos mecanismos destinados a proteger os usuários do Twitter contra abuso e assédio em meio ao que eles descrevem como um ambiente de trabalho caótico.
O tempo todo cercado por guarda-costas, Musk é inacessível. Vários dos trabalhadores com quem a BBC conversou falaram publicamente pela primeira vez.
A ex-chefe de conteúdo diz que todos em sua equipe foram demitidos, o que a levou a renunciar.
Sua equipe era responsável por criar diversas medidas de segurança, como uma mensagem que perguntava se a pessoa tem certeza que quer responder a uma postagem de maneira agressiva.
Uma pesquisa interna do Twitter sugere que essa medida de segurança reduziu as respostas agressivas em 60%.
Um engenheiro que ainda trabalha para o Twitter disse que ninguém está responsável por esse tipo de trabalho agora, comparando a plataforma a um prédio que parece bom por fora, mas por dentro “está pegando fogo”.
A BBC procurou o Twitter para comentar o assunto, mas a empresa não respondeu.
A investigação da BBC também revelou:
– Preocupações de que a exploração sexual infantil esteja aumentando no Twitter e não sendo suficientemente denunciada às autoridades.
– Falta de detecção de campanhas de assédio destinadas a restringir a liberdade de expressão e de operações clandestinas de influência da opinião pública por governos estrangeiros – coisas que antes era removidas diariamente do Twitter.
– Dados exclusivos mostrando que houve um aumento de 69% em novas contas seguindo perfis misóginos e abusivos.
– Sobreviventes de estupro foram alvo de contas que se tornaram mais ativas desde a aquisição, com indicações de que foram reintegradas ou criadas recentemente.
A repórter da BBC Marianna Spring, especializada em cobrir redes sociais e desinformação, pediu ajuda para uma equipe do Centro Internacional para Jornalistas e da Universidade de Sheffield para rastrear o ódio direcionado a ela nas redes.
O resultado do estudo mostrou que o discurso de ódio contra ela no Twitter mais do que triplicou desde que Elon Musk assumiu a empresa, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Todos os sites de mídia social estão sob pressão para combater o discurso de ódio online, mas eles dizem que estão tomando medidas para lidar com isso. Medidas que parecem não estar mais em pauta no Twitter.
Em São Francisco, cidade da sede do Twitter, Marianna Spring conversou com um engenheiro responsável pela programação, ou seja, os códigos de computador que fazem o Twitter funcionar. Como ele ainda está trabalhando na empresa, ele pediu anonimato, então o chamaremos de Sam.
“Para alguém de dentro, é como um prédio onde todas as partes estão pegando fogo”, disse ele. “Quando você olha de fora, a fachada parece boa, mas vejo que nada está funcionando. Todo o encanamento está quebrado, todas as torneiras, tudo.”
Ele diz que o caos foi criado pelas enormes demissões. Pelo menos metade da força de trabalho do Twitter foi demitida ou pediu demissão desde que Musk comprou a empresa. Agora, as pessoas de outras equipes estão tendo que mudar seu foco, diz ele.
“Uma pessoa totalmente nova, sem experiência, está fazendo o que costumava ser feito por mais de 20 pessoas”, diz Sam. “Isso gera muito mais riscos, muito mais possibilidades de coisas deem errado.”
Ele diz que os mecanismos anteriores de segurança ainda existem, mas as pessoas que os projetaram e os mantinham funcionando deixaram a empresa.
“Há tantas coisas quebradas e ninguém cuidando disso”, diz ele.
O nível de confusão, em sua opinião, é porque Musk não confia nos funcionários do Twitter. Ele diz que Musk trouxe engenheiros de sua outra empresa – a fabricante de carros elétricos Tesla – e pediu-lhes que avaliassem os códigos apenas alguns dias antes de decidir quem demitir. “Códigos como esses levariam ‘meses’ para entender”, ele diz.
Ele acredita que essa falta de confiança é evidente pelo distanciamento de Musk.
“Onde quer que ele vá no escritório, há pelo menos dois guarda-costas altos e fortes, como de filme. Mesmo quando [ele vai] ao banheiro”, diz o funcionário. As informações são da BBC News.