Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Tito Guarniere | 1 de abril de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Não estamos bem. Tomem a semana que passou. Primeiro, uma ameaça assustadora do PCC, a mais notória organização criminosa brasileira: plano para assassinar Sérgio Moro, Geraldo Alckmin, procuradores da República, autoridades carcerárias.
Na instância dos militantes políticos aloprados, ou bem foi uma armação do próprio Moro (segundo Lula) ou bem foi uma armação da esquerda (segundo Bolsonaro). Ora, por enquanto não há evidência nem de uma coisa nem de outra. É por tais inconsequências, ditas assim como quem não quer nada, até pelos atores mais importantes do embate político, que vivemos essa quadra da vida nacional, onde prevalece o ódio e a polarização.
E lá a bandidagem do PCC precisa dos políticos, de Moro, Lula, Bolsonaro, para fazer suas armações, suas ameaças?
Mas os políticos brasileiros de ponta, como Lula e Bolsonaro, jamais perdem a oportunidade para confundir e alimentar a confusão, trazer a brasa para a sua sardinha, inflar as respectivas narrativas. Eles gostam é do beco escuro, do lodaçal – nada que traga um pouco de civilidade e racionalidade ao debate político. Nada que contribua de alguma maneira para criar um clima de respeito e convívio civilizado, que nos permita sair um dia desse cenário de briga de rua.
Depois, descobre-se que Lula, que prometeu governar para todos – ao contrário de Bolsonaro, que só falava e governava para os seus –, entretanto, parece mais obcecado que nunca em agradar a militância, em falar somente para os seus, em reafirmar as velharias da esquerda, e em fechar portas e janelas para uma possível concertação, a mais ampla , para um governo de união nacional. Esse Lula 3 é apenas uma outra face do governo Bolsonaro.
Então Lula só vai ficar bem quando ferrar Sérgio Moro? (Sei bem que não usou o verbo “ferrar”, usou outro que torna a expressão mais grosseira e deselegante, e que também começa com “f”). Ou seja, ele está cheio de ressentimento, de desejo de vingança, esses péssimos conselheiros de todo ser humano, e mais ainda de líderes e dirigentes.
Se tais sentimentos menores movem o presidente, ainda que eles possam ser justificáveis (a prisão de 540 dias, por exemplo, que ele acha injusta com boa dose de razão) então se compreende este começo de governo, incapaz de dizer com clareza a que veio, confuso, sem prumo e direção.
Um governo não se sustenta apenas pelo mal que evita. Ele tem a obrigação moral e política (ao menos) de apresentar as linhas gerais de um projeto, um plano. Não basta o velho truque das intenções meramente declaratórias – quem será contra um governo que pretende eliminar a pobreza, distribuir a renda, alinhar o país com as demandas do tempo presente, respeitar e fazer respeitar a democracia e os direitos humanos?
A retórica, a disputa da narrativa, tudo é parte da política. Mas o governo – mais do que todos os protagonistas da cena política e institucional – tem obrigações para com a sociedade que ultrapassam esse limite trivial: onde pretende chegar? O que vai fazer para alcançar seus objetivos? Está focado na ação, no trabalho duro para alcançá-los ou na guerra de palavras?
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.