Terça-feira, 26 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 3 de abril de 2023
Favorito até agora entre os pré-candidatos de seu partido, o ex-presidente tentará beneficiar-se do processo
Foto: ReproduçãoAlçado ao posto de réu num processo de suborno a uma estrela pornô, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump começou a tirar proveito de sua nova condição, inédita entre os 45 presidentes americanos que ocuparam a Casa Branca. Seu indiciamento por um grande júri de Manhattan joga-o no papel em que ele se sente mais à vontade – o de vítima de uma perseguição política, ao mesmo tempo em que solta seu grito de guerra aos oponentes.
Restam poucas dúvidas de que a rendição de Trump, que é negociada para a próxima terça-feira (04), e os desdobramentos desta acusação vão abalar a campanha eleitoral e aprofundar ainda mais as divisões partidárias nos EUA. O indiciamento deverá trazer imagens fortes e incômodas aos eleitores: a exposição do ex-presidente algemado e fichado.
Democracia americana
Se, por um lado, a acusação criminal – ainda mantida em sigilo – é uma evidência de que ninguém está acima da lei; por outro, representa mais um estressante teste para a democracia americana. Lança dúvidas sobre a composição de um júri imparcial e um julgamento que deve ocorrer durante as primárias republicanas.
Favorito até agora entre os pré-candidatos de seu partido, ele tentará beneficiar-se do processo, uma vez que o julgamento não o impedirá de prosseguir com a campanha. Ao contrário, a expectativa dos republicanos é que isso estimule as doações, como vem ocorrendo desde que ele antecipou, há duas semanas, que seria preso.
No extenso comunicado divulgado logo após a decisão do grande júri, Trump dá a deixa para que seus partidários se manifestem contra o que chama de a interferência eleitoral “no nível mais alto da história”. Responsabiliza o presidente Joe Biden, o promotor Alvin Bragg e “os democratas da esquerda radical” por ter virado réu.
Críticas aos democratas
“Os democratas mentiram, trapacearam e roubaram em sua obsessão de ‘pegar Trump’, mas agora eles fizeram o impensável – indiciar uma pessoa completamente inocente em um ato de flagrante interferência eleitoral”, disse.
O jogo belicoso é arriscado, mesmo para Trump, que incitou uma insurreição no Capitólio, levando mil pessoas à prisão, com algumas condenações por sedição. A tese da vitimização, sem dúvida, cola em sua base eleitoral e ganha apoio no Partido Republicano, que vem se rendendo ao ex-presidente, corroborando os argumentos de perseguição política.
O mais irônico é que agora o ex-presidente provará de seu próprio veneno. Em 2016, elegeu-se com o slogan “Prendam ela”, reverberado furiosamente pelos simpatizantes, que queriam ver a concorrente Hillary Clinton na prisão. Chegou a vez de os democratas ecoarem o grito de guerra contra ele.