Domingo, 12 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 25 de abril de 2023
Campos Neto vem preparando nas últimas semanas a sua linha de argumentação para apresentar à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE)
Foto: DivulgaçãoÀs vésperas de seu depoimento no Senado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, passou a rebater o rótulo de que teria transformado o Brasil em “campeão mundial dos juros”, ao subir a taxa básica de juros a 13,75% ao ano e sinalizar sua manutenção nesse patamar por um período prolongado.
Seu argumento é que, nessa disputa, os juros do Brasil de hoje são menores do que foram os juros do próprio Brasil num passado não muito distante. Além disso, na comparação com outros países, nossa distância não é tão grande quanto parece à primeira vista, dependendo dos critérios adotados.
Numa apresentação feita em Londres durante o feriado, Campos Neto também procurou mostrar, com um exercício contrafactual, que os juros nominais poderiam ser ainda mais altos, se o Banco Central não tivesse aumentado a taxa Selic da forma como fez durante a campanha eleitoral.
Argumentação
O presidente do Banco Central vem preparando nas últimas semanas a sua linha de argumentação para apresentar à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Sua participação, que deveria ter ocorrido no início do mês, deve acontecer amanhã, às 9h, se não houver novo adiamento de última hora. A partir de quarta, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central entra no período de silêncio, em que seus membros evitam fazer pronunciamentos públicos sobre assuntos ligados aos juros básicos da economia.
O Senado é justamente quem concedeu o mandato de Campos Neto e dos demais diretores do Banco Central. Ultimamente, o presidente da casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tem feito apelos para que o Copom reduza a taxa básica de juros “de forma técnica”, juntando-se ao coro feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por ministros da área econômica.
Londres
Em Londres, no feriado de Tiradentes, Campos Neto apresentou comparações sobre os juros segundo duas medidas diferentes. Numa delas, usou o chamado juro real ex-post, ou seja, uma comparação dos juros efetivamente praticados pelo Brasil no passado, descontada a inflação.
Vários críticos do Banco Central dizem que, por esse critério, os juros no Brasil foram muito altos, chegando a 8,3%, em termos reais. Essas contas, porém, usam a inflação cheia efetivamente medida pelo IBGE, que ficou mais baixa (4,56%, no período de 12 meses até março) devido ao corte de impostos feito pelo governo Bolsonaro durante a eleição. Outro componente do cálculo é a taxa Selic efetivamente apurada no período (13,22%).
O presidente do Banco Central vem destacando uma outra métrica para calcular a taxa real de juro. Ela usa o núcleo de inflação, que ficou em cerca de 7,8% no período e exclui oscilações de curto prazo de alguns preços mais voláteis, como energia e alimentos. Por essa métrica, o juro real ex-post ficou na casa dos 5%.
Nesse percentual, vem argumentando Campos Neto, a taxa de juros do Brasil não é muito diferente da observada no México, e não está tão distante de países como Chile, Peru e Colômbia, que tiveram juro um pouco acima de 2% ao ano.
Distância entre juros
O argumento de Campos Neto é que essa distância entre o juro brasileiro e de outros emergentes vem se reduzindo. De 2014 a 2019, a taxa real média ex-post brasileira foi de 4,5%, enquanto os demais países da região tiveram uma taxa média de 0,9%. Portanto, o Brasil tinha uma taxa 3,6 pontos percentuais maior.
De 2021 a 2023, a taxa de juro brasileira caiu a 2,3%, enquanto que os demais países tiveram juros reais de 0,3%. Assim, a diferença se reduziu a 1,9 ponto percentual. Mais recentemente, a diferença segue mais ou menos parecida (2,2 pontos, levando em conta arrendondamentos) considerando a taxa média de 4,8% do Brasil e a de 2,5% da média de México, Chile, Peru e Colômbia.
Outra forma de comparar as taxas de juros é pela taxa ex-ante. Ou seja, subtrair a inflação prevista pelo mercado para o próximo ano da taxa Selic esperada para o mesmo período. Por essa métrica, a distância dos juros também não é tão grande. O Brasil fica com cerca de 6,8%, mais ou menos na faixa do México. Os outros países da região estão com juros reais na casa dos 5%.
Essa comparação entre taxas de diferentes países, mesmo na mesma região, não é totalmente apropriada, porque cada um tem uma situação econômica diferente, que faz com que opere com níveis diferentes de juro neutro. No Brasil, o Banco Central estima o juro neutro em 4%, o que significa que, para baixar a inflação, precisa superar esse percentual. O Chile, que tem contas públicas mais arrumadas, tem uma taxa neutra menor.
Selic
Outro argumento apresentado por Campos Neto para justificar o nível atual da Selic é que, se o Copom não tivesse subido tanto, a carga de juro seria ainda maior ao final. Ele mostrou, no evento em Londres, um exercício contrafactual que mostra que a inflação em 2023 seria de 10%, em vez dos projetados 5,8%, se o Copom não tivesse apertado no período eleitoral.