Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 20 de maio de 2015
Carrinhos e bonecas foram trocados por smartphones, e brincar na rua não faz mais parte do cotidiano. O dia a dia das crianças está diferente, mas quando se trata de namoro, a “regra” é viver “como nossos pais”. A recomendação não vem de nenhum responsável careta, mas de especialistas em desenvolvimento infantil. Todos são unânimes: relacionamentos assim não são recomendados para a faixa etária.
Namorar na infância, ou seja, antes dos 12 anos, é pular uma etapa da vida, aponta o psiquiatra Fábio Barbirato. “Não há namoro sem conotação sexual e estimular a sexualidade de modo precoce não é adequado. E isso vale para qualquer século”, aponta.
O psiquiatra lembra que mudanças físicas – crescimento de pelos pubianos, menstruação e o surgimento da voz grave nos meninos – marcam o início da adolescência, época em que, geralmente, começa a atração pelo outro. “Será que não faz mal namorar antes de passar por essa questão fisiológica? Talvez só saibamos daqui a 20 anos, mas posso garantir que, fisiologicamente, a criança não está preparada”, ressalta.
Se namorar na infância não faz parte da natureza das crianças, por que tem sido cada vez mais comuns pequenos casais? Segundo a psicoterapeuta Andreia Calçada, uma das questões que interferem no relacionamento precoce é a exposição às “realidades de adultos” retratadas em músicas e programas televisivos. Outro fator – que afeta mais as meninas – é se vestir e se comportar como pessoas mais velhas. “Muitas famílias não têm cuidado em controlar o que as crianças veem. Não é raro observar meninas reproduzindo o comportamento de mulheres, rebolando ao dançar, por exemplo”, exemplifica. As meninas acabam sendo mais suscetíveis porque amadurecem mais cedo. De acordo com o pediatra Fernando Chacra, devido à estrutura do organismo, a puberdade ocorre nas meninas entre os 8 e 13 anos e, nos meninos, entre 9 e 14.
Atividades lúdicas.
Assim como Barbirato, Andreia acredita que a infância não pode ser dispensada. Ela explica que crianças devem brincar e é por meio das atividades lúdicas que são desenvolvidos aspectos motores, criatividade e inteligência, além da capacidade de se expressar e de demonstrar sentimentos.
“A criança precisa viver esse momento lúdico para passar para a etapa posterior. Viver como um adultinho quebra esse ciclo.” E esse rompimento pode trazer consequências futuras. Segundo a especialista, na fase adulta, a pessoa pode se sentir frustrada por não ter vivido, adequadamente, a infância e a adolescência.
“É aquele caso de quem vira adolescente aos 40, porque sentiu que não viveu o que deveria.” Ainda segundo Andreia, na hora de educar os filhos, essas pessoas podem ficar confusas em relação às fases dos pequenos.
Comportamento humano não é uma ciência exata, mas a especialista acredita que por volta dos 15 anos é saudável começar a namorar. Para Barbirato, os pais devem participar desse momento e é fundamental não ter medo nem vergonha de conversar sobre sexualidade com os filhos. (AD)