Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Carlos Roberto Schwartsmann | 24 de maio de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Depois de completar minha formação médica em São Paulo, por dez anos, voltei aos pagos em 1983. Consegui transferência como médico concursado do INAMPS para o posto do IAPI. Fiquei impressionado com as instalações e organização daquele ambulatório modelo. Tinha muito orgulho de atender ao lado de vinte e dois expoentes médicos da ortopedia sul-riograndense. Cada um de nós atendia 15 pacientes por dia. Portanto o nosso potencial de consultas era de 345 pacientes por dia. Todos nós éramos federais.
Algumas vezes, pacientes reclamavam que era necessário chegar muito cedo para pegar a “ficha”, mas todos eram atendidos no mesmo dia. Se era necessário algum tratamento cirúrgico, nós mesmos emitíamos a guia de internação e operávamos em qualquer hospital da cidade em 2 ou 3 dias. Até o hospital Moinhos de Vento atendia o INAMPS.
A constituição de 1988, desastrosamente, transferiu a gestão dos serviços de saúde para estados e municípios: “A municipalização da saúde”. Foi neste momento que as filas do SUS apareceram nas grandes cidades. Obviamente, somente nelas, existem condições médico-hospitalares para realizar procedimentos de média e alta complexidade.
Com o passar do tempo e, para melhorar a desorganização, uma normativa do sistema considerou excessivo o tempo de espera de 100 dias para uma consulta e 180 dias para eventual tratamento cirúrgico. Evidentemente que a maioria das patologias tem evolução lenta e não serão fatais: Hipertensão, diabete, hérnias, tumores benignos, artrose etc.
Esqueceram os gestores que a traumatologia sempre deverá ser considerada como urgência. O tratamento inadequado poderá evoluir com grande incapacidade física. Mas sem dúvida na oncologia, a espera por dias, poderá alterar o desfecho do tratamento.
O paciente poderá evoluir a óbito.
No final de março o Ministério da Saúde, devido a incontáveis denúncias da lentidão do sistema, solicitou ao governo gaúcho mapeamento dos serviços de oncologia. Segundo relato de secretários de saúde da serra, alguns pacientes esperam mais de 200 dias para receber tratamento! Muitos morreram neste período.
A municipalização levou a atitudes esdrúxulas e impensáveis em relação a saúde. Em 24/04/2023, a Liga Feminina de Combate ao Câncer de Novo Hamburgo (LFCC), emitiu carta aberta a sociedade para pressionar a volta do atendimento oncológico na sua cidade. Hoje o atendimento oncológico é realizado em Taquara, a 90 km de distância!!! Estes pacientes além da dor dependem de uma logística de transporte e até de alimentação.
O problema não é só regional. Em entrevista recente a secretária de saúde do Ceará, Tania Coelho, admitiu que no estado existem sessenta mil pessoas aguardando por cirurgia eletiva.
Voltando ao passado, no posto do IAPI, não tem mais atendimento em ortopedia. Todos os médicos eram federais e concursados. Hoje a maioria já morreu e os que estão vivos estão aposentados.
Resumindo, e com saudades dos velhos tempos, a saúde deve ter gestão federal e centralizada. Todos que nela ingressarem devem prestar concurso público como era no passado!
Os recursos financeiros são escassos e finitos, mas a demanda será sempre crescente e quase infinita. O aporte financeiro ao sistema sempre foi e sempre será por decisão política. Para os nossos governantes a saúde não tem muita importância. Se o pensamento fosse contrário já teríamos acabado com a fila do SUS.
Carlos Roberto Schwartsmann – Médico e Professor universitário
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
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