Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Dad Squarisi | 18 de junho de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Oba! Junho é mês de muitos santos. Santo Antônio, São João e São Pedro recebem homenagens e ganham festas. A mais legal é a de são-joão. Adultos e crianças se vestem de caipira e caem na farra: dançam a quadrilha, pulam a fogueira, participam do casamento na roça, pescam surpresas, comem delícias. Ali, a gula não é pecado.
Ninguém precisa resistir à tentação de canjicas, pipocas, churrasquinhos, paçocas, pamonhas, cachorros-quentes, pés de moleque & cia. prazerosa. Na faceirice geral, uma restrição se impõe. Trata-se de respeitar a grafia nota 10. O nome do santo é substantivo próprio. Escreve-se São João. O da festa é substantivo comum. Grafa-se são-joão.
Analogia
As festas juninas são tão boas que avançam no mês de julho. Aí ganham outro nome. São julinas.
Pé de moleque
O que é presença obrigatória na festa junina? Muitas coisas. A mais importante: pé de moleque. Olho vivo! A reforma ortográfica cassou o hífen do docinho gostoso. Ele nem ligou. Livre e solto, continua reinando Brasil afora.
Companhia
A reforma ortográfica eliminou o tracinho dos compostos por três ou mais palavras que, soltas, nada têm a ver uma com as outras. Mas, juntas, formam outro vocábulo. É o caso de pé de moleque. Pé designa parte do corpo. Moleque, menino sapeca. A preposição de os junta. O trio dá nome ao doce que deixa pra lá o pecado da gula.
Exemplos não faltam. Eis alguns: mão de obra, dia a dia, dor de cotovelo, folha de flandres, testa de ferro, leão de chácara, faz de conta, quarto e sala, mula sem cabeça, tomara que caia.
Sem vacilos
A reforma não atingiu todas as palavras assim compostas. As que designam bicho ou planta conservam o tracinho. Mantêm-se como dantes no quartel de Abrantes: cana-de-açúcar, ipê-do-cerrado, pimenta-do-reino, castanha-do-pará, joão-de-barro, bem-te-vi, bem-me-quer, porco-da-índia, canário-da-terra. E por aí vai.
Plural
O plural de pé de moleque? É pés de moleque.
Arraial
Festas juninas são as comemorações mais animadas do Nordeste. Campina Grande, Caruaru e tantas outras cidades passam o ano inteiro organizando os festejos. No vaivém, uma palavra ganha destaque. É arraial. Você sabe de onde veio a criatura tão animada?
Se você adivinhar, ganha um saco de pipoca. Levará pra casa umas branquinhas saltitantes, quentinhas e cheirosas. Quer saborear a delícia? Então marque a resposta certa:
1. Arraial veio de rei.
2. Arraial veio de areia.
3. Arraial veio de arraia.
4. Arraial veio de raio.
E daí?
Marcou a letra a? Acertou. Arraial é meio camaleão. Às vezes quer dizer acampamento militar. Outras, lugar de festas populares. Outras, ainda, um pequenino lugar do interior, um lugarejo.
Antes de chegar à forma de agora, arraial teve outras caras. Uma delas é arreal. Ficou fácil, não? Tudo indica que arraial veio de real. Real vem de rei. No começo, arraial era o acampamento do rei. É, pois, coisa de Sua Majestade.
Leitor pergunta
Tenho dúvidas sobre a conjugação do verbo reaver. Pode me ajudar? Clarice Souza, Porto Alegre.
Louco pelos prazeres da carne, o verbo haver é do tempo em que não havia camisinha nem pílula anticoncepcional. Resultado: teve filhos. Um deles é reaver. O garoto quer dizer haver de novo (recuperar).
Muitos lhe confundem a paternidade. Escrevem reavejo, reaviu como se o verbo fosse derivado de ver. Bobeiam. Ele só se conjuga nas formas em que aparece o v do paizão: houve (reouve), haveria (reaveria), haverão (reaverão).
(Coluna republicada.)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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