Domingo, 27 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 20 de julho de 2023
É falsa a informação de que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha admitido que mães “totalmente vacinadas” contra a covid-19 estariam tendo filhos com “graves defeitos cardíacos”, diferentemente do que afirma uma publicação em um site que foi amplamente compartilhada no Telegram.
Não há qualquer evidência relacionando imunizantes a problemas cardíacos em recém-nascidos. O link com a fonte da “informação” colocado no início do texto leva para um outro site com texto, em inglês, intitulado “OMS alerta para aumento incomum de casos de miocardite grave entre recém-nascidos e bebês no Reino Unido”. Este dado, sim, é correto e pode ser conferido na página da OMS. O documento não faz qualquer menção a vacinas.
Sobre elas, inclusive, o texto desinformativo não cita a quais vacinas a OMS estaria se referindo, mas, depois do quarto parágrafo, fala sobre a relação da miocardite com os imunizantes contra a covid-19.
De fato, a miocardite é um evento adverso que pode ocorrer em decorrência dessa imunização, e, embora o tema seja amplamente explorado por grupos antivacina – como o site aqui verificado –, a chance de a inflamação no músculo cardíaco ocorrer é muito mais baixa do que a de uma pessoa se infectar pela covid-19. Por isso, além da OMS, órgãos de saúde do mundo todo, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Brasil, a United Kingdom Health Security Agency (UKHSA), do Reino Unido, o Center for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, recomendam que mulheres grávidas se vacinem contra o novo coronavírus.
A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), que atua como escritório regional da OMS, reforçou que se trata de um conteúdo falso e que a vacinação “só faz bem, tanto para mães quanto para seus bebês e toda a família”.
Até 19 de julho, o conteúdo falso teve 7,7 mil visualizações no Telegram.
A OPAS afirmou que, de fato, a OMS foi notificada pelo governo do Reino Unido sobre o aumento de casos de miocardite grave em recém-nascidos, mas sem nenhuma relação com vacinas ou gestantes. Os casos são associados à infecção por enterovírus no País de Gales, entre junho de 2022 e abril de 2023.
O órgão, que atua como escritório regional da OMS, disse ainda que tanto a OPAS quanto a OMS recomendam “que as mulheres grávidas se vacinem com todas as doses necessárias e recomendadas – tanto as contra covid-19 e gripe quanto as de rotina do calendário nacional de vacinação – para que se protejam de doenças potencialmente mortais”.
De acordo com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), os enterovírus estão entre os agentes virais mais frequentemente relacionados a doenças em seres humanos. Fazem parte deste grupo mais de setenta tipos de vírus, que são transmitidos através da via fecal-oral, ou seja, quando uma pessoa ingere alimentos ou água com fezes contaminadas pelos vírus. Outra forma de contaminação é o compartilhamento de objetos infectados.
Alguns sintomas causados pelo enterovírus são dor de cabeça, febre, vômitos, dor de garganta, feridas na pele e úlceras dentro da boca. O diagnóstico é confirmado por exames laboratoriais, mas não há tratamento específico, mas a utilização de medicamentos que aliviam os sintomas.
A verificação foi realizada pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne veículos impressos, radiofônicos, televisivos e digitais de grande alcance, como O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, SBT, Band News FM e UOL, entre outros.