Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 22 de julho de 2023
Levantamento mostra que menos da metade dos Estados especificam, no Boletim de Ocorrência, que os crimes ocorreram em uma zona rural
Foto: ReproduçãoEm 2022, o Brasil teve pelo menos 32.448 denúncias de mulheres que foram vítimas de violência doméstica e familiar em zonas rurais, aponta levantamento exclusivo feito pelo site g1, com dados de Secretarias de Segurança Pública dos Estados e Distrito Federal.
Os números, no entanto, devem ser bem maiores. Primeiro porque nem todos os estados especificam, no Boletim de Ocorrência, que os crimes ocorreram em área rural. E as formas de organizar os dados variam.
Outro problema é que, “nas áreas rurais, há uma subnotificação absurda dos casos de violência doméstica”, destaca a pesquisadora e policial militar Juliana Lemes da Cruz, que é conselheira do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) e estuda o tema no Vale do Mucuri, no Nordeste de Minas Gerais.
Isolamento, vergonha, distância de serviços de saúde e segurança e medo de denunciar são alguns dos fatores que desincentivam as vítimas a buscar ajuda, afirma Juliana.
Para obter os dados, o g1 solicitou, via LAI (Lei de Acesso à Informação), os registros de Boletins Ocorrência enquadrados nos crimes da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), que aconteceram entre 2006 e 2022, em zonas rurais dos municípios.
Os Estados que enviaram os dados selecionaram recortes de tempo distintos entre si. O que tinha em comum entre eles eram apenas as informações de 2022. Por causa disso, o gráfico acima tem somente os registros policiais do ano passado.
Outro obstáculo é que cada estado tem uma forma distinta de organizar as informações dos Boletins de Ocorrência. Nem todos utilizam o termo “zona rural” para especificar que o crime ocorreu no campo. Alguns usam o termo “interior”, por exemplo.
O site g1 entrou em contato com o Ministério das Mulheres para saber se o governo tem algum plano para dar suporte às vítimas de violência doméstica e familiar no campo.
Em resposta, o órgão afirmou que está retomando o Programa Mulher Viver sem Violência, que funcionou até 2016, oferecendo, por meio de unidade móveis, atendimento especializado em saúde, segurança pública, justiça, assistência social e autonomia financeira.
“Até 2016, o Programa Mulher Viver sem Violência distribuiu cerca de 60 unidades móveis para as capitais dos Estados e DF com o objetivo de atender mulheres vítimas de violência em áreas rurais e de floresta”
“Neste momento, o Ministério das Mulheres está realizando um levantamento dessas unidades móveis, a fim de reavaliar as melhores estratégias para levar o atendimento”.