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Por Redação O Sul | 13 de agosto de 2023
Marte teve em algum momento um clima com estações cíclicas, propício ao desenvolvimento da vida, segundo deduzem especialistas a partir de indícios encontrados na superfície do planeta vermelho pelo robô explorador Curiosity. O planeta, cujo clima atual é extremamente árido, teve há bilhões de anos abundantes rios e lagos, já evaporados.
Diferentemente da Terra, a superfície de Marte não se renova pelos movimentos tectônicos de placas, e os depósitos desses solos antigos se conservaram perfeitamente. O robô Curiosity da Nasa estava explorando um desses locais desde 2012: a enorme cratera Gale e sua montanha de 6 mil metros de altura, feitas de camadas de sedimentos.
“Compreendemos rapidamente que estávamos trabalhando em depósitos de lagos e rios, mas não sabíamos a qual tipo de clima vinculá-los”, conta à AFP William Rapin, pesquisador do CNRS e principal autor de um estudo publicado na Nature.
Marte pode ter sido um planeta gelado onde uma erupção vulcânica esquentou repentinamente a atmosfera e provocou a formação de água líquida, acrescenta o planetólogo da Universidade de Toulouse, na França. O especialista realizou a pesquisa junto ao laboratório de Geologia de Lyon e de colegas americanos e canadenses.
À medida que subia lentamente a ladeira da montanha, o Curiosity encontrou depósitos de sal de formas hexagonais, em um solo que datava de 3,8 a 3,6 bilhões de anos. A análise das rochas mostrou que se tratava de rachaduras de lama seca.
“Quando um lago seca, a lama racha, e quando é reidratada, o rachamento ‘se cura’”, explica Rapin.
Se esse processo se repetir com regularidade, as rachaduras se organizam de tal maneira que formam hexágonos, de forma similar aos padrões observados nas antigas bacias terrestres que secam sazonalmente. O modelado de lama terrestre submetido a ciclos secos e úmidos demonstraram ainda mais “matematicamente” essa formação hexagonal específica.
Trata-se da “primeira prova tangível de que Marte tinha um clima cíclico”, segundo o pesquisador.
Do inerte ao vivo
Assim como a Terra, as estações seca e úmida se sucediam em intervalos regulares, há mais de três bilhões de anos, e durante um período suficientemente longo, vários milhões de anos, para que a vida aparecesse. Um clima desse tipo é uma das condições para que a matéria orgânica passe de inerte à viva.
“O Curiosity já havia detectado a presença de moléculas orgânicas simples que podem ser formadas por processos geológicos e biológicos”, detalha o centro de pesquisas científicas francês CNRS em nota à imprensa.
Os aminoácidos, por exemplo, que, às vezes, combinam-se para formar moléculas mais complexas e constitutivas dos organismos vivos, como o RNA e o DNA. Tal processo, no entanto, necessita de ciclos para se formar, como demonstraram experimentos independentes no laboratório.
“Em um mundo muito seco, essas moléculas nunca têm a oportunidade de se formar; em mundos muito úmidos também não”, acrescenta o planetólogo.
Equilíbrio necessário
Neste sentido, o planeta vermelho tinha o equilíbrio necessário para o desenvolvimento das formas de vida. Mas de que tipo? Os cientistas pensam em micro-organismos primitivos unicelulares como os do domínio Archaea e bactérias, que são os nossos antepassados mais antigos. Mas como eles apareceram na Terra segue sendo um mistério, já que a tectônica de placas apagou o rastro dos restos mais antigos.
“O que desconhecemos na Terra é a odisseia das origens da vida a nível molecular”, comenta Rapin.
Marte, no entanto, manteve um registro, o que poderia nos permitir compreender em pequena escala o que aconteceu em nosso planeta em sua infância. Embora, no momento, não se saiba se algum tipo de vida chegou realmente a florescer no planeta vermelho, ou se morreu tentando.