Quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de agosto de 2023
O hacker foi um dos responsáveis pela invasão de dispositivos de autoridades da operação Lava Jato.
Foto: Lula Marques/Agência BrasilA Justiça Federal do Distrito Federal condenou, nesta segunda-feira (21), o hacker Walter Delgatti Neto a 20 anos e um mês de prisão pelo episódio conhecido como “Vaza Jato”.
O hacker foi um dos responsáveis pela invasão de dispositivos de autoridades da operação Lava Jato. Ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) pelo caso na Operação Spoofing desde 2019 pela Polícia Federaç (PF), que apura a invasão do celular de autoridades por um grupo hacker.
Parte do conteúdo foi repassado à época a jornalistas do The Intercept e influenciaram nas anulações de processos contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que atualmente não responde mais ações da Lava-Jato na Justiça.
A decisão é do juiz Ricardo Augusto Soares Leita, substituto da 10ª Vara Criminal da Justiça Federal do DF. “Culpabilidade em grau exasperado, já que seus ataques cibernéticos foram direcionados a diversas autoridades públicas, em especial agentes responsáveis pela persecução penal, além de diversos outros indivíduos que possuem destaque social, bastando verificar as contas que tiveram conteúdo exportado”, disse o magistrado, na sentença.
Neste momento, Delgatti está preso preventivamente pela suspeita de invasão dos sistemas do Poder Judiciário, em apuração que envolve suposta participação da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Delgatti e as urnas
Walter Delgatti afirmou à PF que, a mando de Zambelli, inseriu um falso mandado de prisão para o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no sistema do Conselho Nacional de Justiça e que recebeu R$ 40 mil da deputada e de assessores dela para tentar invadir sistemas do Judiciário.
O hacker disse ainda que em 2022 participou de uma reunião na sede do PL, a pedido de Zambelli, e que nessa reunião o marqueteiro do partido, Duda Lima, solicitou que ele produzisse um código falso para ser inserido em uma urna eletrônica emprestada. O objetivo era exibir de forma enganosa no dia 7 de setembro, um mês antes das eleições, uma propaganda de que as urnas poderiam ser violadas.
Delgatti confirmou à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do 8 de janeiro, o que já havia revelado em depoimento à Polícia Federal: que não conseguiu invadir o TSE, mesmo após diversas tentativas, pois o código fonte da urna eletrônica não fica hospedado em um computador com acesso à internet, mas fica em um computador offline, não sendo possível o acesso externo.
Ele também falou que teve um encontro no Palácio da Alvorada com o ex-presidente Bolsonaro, quando recebeu dele um pedido para tentar fraudar as urnas eletrônicas.
Do Alvorada, por ordem de Bolsonaro, teria ido diretamente para o Ministério da Defesa. Segundo Delgatti, a reunião com Jair Bolsonaro foi no dia 10 de agosto de 2022 e durou cerca de uma hora e meia. No entanto, este encontro não constou na agenda oficial do ex-presidente.
“Sobre as urnas e sobre a eleição, e sobre a lisura das urnas. E a conversa foi bem técnica, até que o presidente me disse, falou assim: ‘Olha, a parte técnica eu não entendo, então, eu irei enviá-lo ao Ministério da Defesa e lá, com os técnicos, você explica tudo isso’. A conversa se resumiu nisso. E também, ele pediu que eu fizesse o que o Duda havia dito sobre o dia 7 de setembro”, disse Delgatti à CPMI.
O hacker afirmou que esteve cinco vezes no Ministério da Defesa; que se encontrou, inclusive, com o então ministro Paulo Sérgio Nogueira; e afirmou que o relatório do ministério sobre as urnas eletrônicas entregue ao Tribunal Superior Eleitoral no dia 9 de novembro de 2022 foi feito a partir de orientações dadas por ele.
“Eu posso dizer hoje que, de forma integral, aquele relatório tem exatamente o que eu disse, não tem nada menos e nada mais”, afirmou o hacker.