Quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de agosto de 2023
O depoimento foi marcado após o hacker falar à CPMI dos atos antidemocráticos.
Foto: Bruno Spada/Câmara dos DeputadosO hacker Walter Delgatti Neto afirmou, em depoimento à Polícia Federal na última sexta (18), que entrava no Ministério da Defesa pela porta dos fundos para discutir o funcionamento das urnas eletrônicas. O depoimento foi marcado após o hacker falar à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) dos atos antidemocráticos no Congresso e dar novos detalhes de sua relação com o governo Jair Bolsonaro.
Na avaliação do advogado de Delgatti, Ariovaldo Moreira, essa entrada pelos fundos acontecia para que a presença do hacker não ficasse registrada nos sistemas da portaria principal.
Delgatti Neto afirmou à CPMI que, nesses encontros, ele “orientou” o relatório produzido pelo Ministério da Defesa sobre as urnas eletrônicas e entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em novembro do ano passado, após as eleições presidenciais. Ele disse também que participou dessas reuniões a pedido do então presidente Jair Bolsonaro.
O hacker afirmou que esteve cinco vezes no Ministério da Defesa; que se encontrou, inclusive, com o então ministro Paulo Sérgio Nogueira e com técnicos da pasta e que a posição final do ministério sobre a confiabilidade do sistema eleitoral foi definida por ele. A Polícia Federal e a Comissão buscam provas de que essas reuniões foram, de fato, realizadas.
Relatório
O relatório da Defesa não apontou qualquer fraude na votação, mas pediu que o TSE fizesse “ajustes” no sistema eleitoral já rejeitados tecnicamente por entidades fiscalizadoras e disse que não era possível atestar a “isenção” das urnas.
A posição oficial do Ministério da Defesa, sugerindo dúvidas sobre a isenção das urnas, divergiu de todas as demais entidades fiscalizadoras nacionais e internacionais.
Essas entidades foram unânimes em comprovar que a urna eletrônica é segura e que as eleições brasileiras foram limpas.
De acordo com Delgatti Neto, embora não tenha escrito o texto em si, foi ele quem chegou a essas conclusões e as transmitiu aos técnicos do Ministério da Defesa.
“A ideia inicial era que eu inspecionasse o código-fonte, só que eles explicaram que o código-fonte ficava somente no TSE e apenas servidores do Ministério da Defesa teriam acesso a esse código. Então, eles iam até o TSE e me repassavam o que eles viam, porque eles não tinham acesso à internet, eles não podiam levar uma parte do código; eles acabavam decorando um pedaço do código e me repassando”, relatou Delgatti.
“Então, tudo isso que eu repassei a eles consta no relatório que foi entregue ao TSE. Eu posso dizer hoje que, de forma integral, aquele relatório tem exatamente o que eu disse, não tem nada menos e nada mais”, prosseguiu.
O relatório da Defesa foi algo inédito nas eleições de 2022, criado após pressão do então presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro. À época, ele insistiu pela participação das Forças Armadas como uma das entidades fiscalizadoras do processo.