Sábado, 28 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 22 de agosto de 2023
Ministro José Mucio solicitou acesso a nomes de integrantes das Forças Armadas que se encontraram com o hacker supostamente para descredibilizar as urnas eletrônicas.
Foto: José Cruz/Agência BrasilPor conta do alto número de militares que ocuparam cargos no governo Bolsonaro e que estão na condição de investigados, o ministro da Defesa, José Mucio, pediu à Polícia Federal (PF) acesso a nomes de integrantes das Forças Armadas que se encontraram com o hacker Walter Delgatti Neto, supostamente para descredibilizar as urnas eletrônicas.
A iniciativa sinaliza que o Exército pretende punir aqueles que tiveram ações extremistas em seus quadros. Em paralelo, a caserna faz acenos internos para não desagradar os quartéis.
Além do hacker, que afirmou à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro ter ido cinco vezes ao Ministério da Defesa por recomendação do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, se transformou em um problema para os militares.
Cid está preso desde o início de maio em Brasília acusado de fraudar cartões de vacinação contra a Covid-19. Além disso, ele e é um dos principais investigados em um suposto esquema de desvio de joias.
Os oficiais esperam uma decisão da Justiça comum para que Cid seja submetido a um procedimento interno que pode resultar em sua expulsão.
“Solicitamos informações à PF. Estamos aguardando o retorno. Diante dos dados que eles enviarem, tomaremos todas as providências que forem necessárias”, disse Mucio ao GLOBO.
A punição a militares que participaram de tramas antidemocráticas fez parte de uma reunião entre Múcio, o presidente Lula e os comandantes do Exército, Tomás Paiva; da Marinha, Marcos Sampaio Olsen; e da Aeronáutica, Marcelo Kanitz Damasceno; ocorrida no último sábado (19) no Palácio da Alvorada.
A ideia da reunião surgiu a partir de uma conversa por telefone entre Lula e Mucio, na manhã do próprio sábado. O ministro, que estava no Rio de Janeiro, comentou que ele e o chefe ficariam um bom tempo sem se encontrar porque o presidente viajaria para a África para participar da reunião do Brics.
Lula, então, perguntou que horas Mucio voltaria a Brasília e o chamou para ir ao Alvorada e levar o comandante do Exército. Minutos depois, um assessor do presidente ligou e pediu que o ministro convidasse também os outros dois comandantes.
A pauta central do encontro foi o orçamento da Defesa para 2024, mas Lula falou sobre a CPMI e citou o depoimento de Delgatti.
Ficou acertado na reunião que o Exército não comentaria a fala do hacker para não tumultuar o ambiente, que ainda está em processo de pacificação depois dos ataques às Sedes dos Três Poderes.
Os oficiais das Forças desqualificam Delgatti e consideram que seu depoimento deve ser visto com ressalvas. O hacker ficou conhecido por invadir contas de procuradores da Lava-Jato em 2019 e vazar as mensagens.
Com relação a Mauro Cid, a cúpula do Exército tem consciência de que a imagem está sendo prejudicada com as revelações de sua atuação para vender joias recebidas pelo ex-presidente, mas o argumento é que o processo legal não pode ser atropelado.
Os comandantes salientam que é necessário individualizar as condutas e punir os culpados para preservar a instituição das Forças Armadas. Dentro da estratégia de melhorar a relação com os militares, Lula informou, na conversa de sábado, que irá participar do desfile de 7 de setembro. Ele quer, no entanto, despolitizar o evento.
Em outra resposta à onda de denúncias que têm atingido integrantes da Força, o general Tomas Paiva divulgou uma ordem interna em que afirma que os militares “devem pautar suas ações pela legalidade e legitimidade”.
O comandante frisa no documento que o Exército “é uma Instituição de Estado, apartidária, coesa, integrada à sociedade e em permanente estado de prontidão”. Destaca ainda que “existe um desconhecimento” da sociedade sobre as ações da Força que “trazem benefícios para nossa população”. Como resposta, o texto fala na criação da Associação de Amigos do Exército.