Domingo, 12 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 8 de setembro de 2023
Ramiro Júlio Soares Madureira (foto) é um dos sócios da 123milhas.
Foto: Bruno Spada/Câmara dos DeputadosNa era dos grandes empresários sedentos por seguidores nas redes sociais TikTok, Instagram e X, os irmãos Augusto Júlio Soares Madureira e Ramiro Júlio Soares Madureira, fundadores do site de compra e vendas de milhas aéreas 123milhas, vivem uma realidade bem diferente. Eles adotam um estilo mais discreto, tanto na vida pessoal como profissional, com raras aparições públicas, longe das redes sociais e sem fotos usufruindo de suas fortunas.
O nome dos fundadores da empresa, no entanto, foi parar na lista de termos mais buscados nos pesquisadores de internet após o imbróglio envolvendo a 123milhas se tornar público, com cancelamento de passagens e pedido de recuperação judicial, na 1ª Vara Empresarial de Belo Horizonte. Hoje, eles prestaram depoimento na CPI das Pirâmides Financeiras, em Brasília.
Membros de uma tradicional família mineira produtora de café, os Soares Madureira, têm negócios na cidade de Piumhi, no interior de Minas Gerais, a 265 km de distância de Belo Horizonte, no centro-oeste mineiro.
A família foi dona da Minas Export, detentora da marca Moka Café, que acabou vendida em uma negociação milionária para a gigante americana Sara Lee. Mais tarde, o negócio acabaria revendido e o portfólio de cafés adquirido pela Camil.
Os negócios da família, no entanto, não se limitam às atividades agropecuárias e de exportação. Ramiro e Augusto têm diversos negócios, além das empresas de milhagem e pacotes de viagem, incluindo joalheria e uma holding de investimentos. Outros membros da família também aparecem como sócios em diversas companhias ativas.
A mais “jovem” das empresas dos irmãos está registrada como Hamrm LTDA, aberta em março deste ano. De acordo com o cadastro, a companhia está ativa no sistema do governo federal como uma “holding de negócios não financeiros”.
Único dos irmãos com alguma presença no mundo virtual, Augusto tem uma página pessoal na rede social de carreira LinkedIn com uma foto antiga e sem atualizações do seu perfil profissional. Segundo o seu “currículo”, a última ocupação teria sido o cargo de diretor administrativo-financeiro na Café Moka, local onde trabalhou até 2009.
Segundo a publicação, o empresário teria começado a carreira em 2001, na Fazenda Bela Vista, mesmo ano que ingressou no curso de economia na Universidade Federal de Minas Gerais. A instituição confirmou que Augusto concluiu o curso de bacharelado pela instituição em 2005.
Ramiro, no entanto, se formou em administração pública na faculdade João Pinheiro, também em Belo Horizonte. Após se formar, chegou a trabalhar na secretaria do Estado por um tempo, deixando o executivo estadual para criar o negócio próprio.
Credores
Na lista de credores com débitos a receber, o dono de uma agência de viagens, que preferiu não se identificar, foi um dos convidados da dupla e conheceu pessoalmente Augusto. “Isso foi antes da pandemia, quando eu vendia mais de R$ 2 milhões em milhas para eles. Eu conversei com o Augusto, tomei um café com ele, batemos um papo, mas ninguém tem acesso. Ele não aparece em lugar nenhum. É um cara bacana, mas é bem sério”, lembra o empresário que hoje tem pouco mais de R$ 100 mil a receber da empresa, mas poucas esperanças de reaver o valor.
Ainda conforme o relato do empreendedor, ele só teria outro encontro com Augusto durante a pandemia, mas dessa vez de maneira virtual e para discutir o momento de dificuldades enfrentada pelas empresas Hotmilhas e 123milhas. Com os impactos econômicos da pandemia, as duas empresas dos Soares Madureira precisaram negociar com o credor uma dívida de pouco mais de R$ 500 mil.
Agora, os sócios da 123milhas deverão ter grandes dificuldades para pagar os R$ 2,3 bilhões de dívidas declaradas na recuperação judicial. A companhia informou, no pedido, ter registrado prejuízo líquido de R$ 1,671 bilhão e receita líquida de apenas R$ 148,5 milhões, no primeiro semestre deste ano. Dessa forma, a expectativa é que a empresa proponha grandes descontos na dívida, para que consiga honrar os pagamentos.
A expectativa de especialistas em recuperações judiciais é de que haverá uma proposta de desconto nos pagamentos bastante significativa, superando os 70%.
A dívida está pulverizada em um imenso número de credores. A lista apresentada pelos advogados da empresa ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais traz quase 5,5 mil páginas e mais de 700 mil nomes. Apesar da dívida bilionária, o maior crédito é do Banco do Brasil, com R$ 74,4 milhões, seguido pelo banco digital BMP, com mais de R$ 30 milhões.
Ao se tornar uma das maiores anunciantes do País desde a época da pandemia, a 123milhas também contraiu grandes dívidas com empresas de mídia como o Google e a JCDecaux, de anúncios em outdoor.
Com uma quantidade tão grande de credores, não será simples realizar assembleias presenciais ou virtuais que permitam deliberações em relação ao plano a ser apresentado.