Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 1 de outubro de 2023
O projeto de uma usina de tirar sal da água do mar e abastecer a população de Fortaleza, está dividindo o governo do Ceará e empresas do setor de internet. A Praia do Futuro, na capital, conhecida pelo turismo, está no centro da polêmica. A proposta ainda não saiu do papel.
É na Praia do Futuro que o governo do Estado pretende construir uma usina de dessalinização para aproveitar a água do mar para o consumo humano. No local também existe um hub, um ponto de conexão de cabos submarinos que ligam o País a outras regiões do planeta (África, Europa e América do Norte e Central).
Essa localização é estratégica porque Fortaleza fica em um ponto central entre a África, a Europa e os Estados Unidos, que concentram a maior parte dos dados de internet no mundo.
Segundo o Ministério das Comunicações, 90% do tráfego de internet do Brasil passam pelo local. As empresas do setor dizem que a instalação na usina pode romper os cabos no mar e, principalmente, na terra.
Segundo as empresas, pode haver um apagão de internet no país.
“Normalmente, quando tem uma ruptura de uma infra estrutura dessa demora de 40 a 50 dias para ser restabelecido o serviço, então você imagina o impacto que teria, por hipótese, se houvesse um problema com essa infraestrutura, numa região que são os hubs. Eu não estou falando só de uma subestação. Estou falando de diversas subestações na região”, diz Luiz Henrique Barbosa, da Associação de Prestadores de Serviços de Telecomunicações.
A Companhia de Água e Esgoto do Ceará, que contratou o projeto, afirma que o ponto de captação da água do mar já foi deslocado para uma área que fica a mais de 500 metros de onde passam os cabos submarinos.
O terreno destinado à usina permanece a cerca 50 metros do trecho dos cabos instalados em terra. A empresa de saneamento afirma não haver riscos.
“Se existe risco, o risco já está posto, hoje, porque a gente já está trabalhando e funcionando em harmonia. Cabo, gás, água, esgoto, drenagem, rede elétrica. Enfim, eu não vejo esse risco. Além disso, essa tubulação que vai chegar até a planta de dessalinização, ela vai estar em uma profundidade bem baixa, mais de seis metros de profundidade. Ou seja, é uma tubulação que não pode nem interferir com as tubulações já existentes, que dirá com cabos”, diz Neuri Freitas, presidente da Companhia de Água e Esgoto do Ceará.
A usina será construída e operada por uma parceria público privada – que envolve três empresas, duas do Ceará e uma da Espanha.
Vai custar três bilhões e cem milhões de reais, num contrato de 30 anos, e poderá tratar água para mais de 700 mil moradores de Fortaleza.
O governo do Ceará aguarda a licença da Superintendência Estadual de Meio Ambiente para o início da obra.
E diz que uma mudança da Praia do Futuro para outra região mais distante vai encarecer o projeto e, consequentemente, a tarifa da água.
A Anatel não vê outra saída e recomenda a transferência da usina.
“Nós recomendamos a construção da usina, porém num lugar diverso, porém com aqueles cuidados. Se os cuidados forem tomados, não importa para a Anatel o lugar não. O que importa para a Anatel é que os cabos submarinos sejam totalmente preservados para não afetar a comunicação no Brasil”, diz Vicente Aquino, conselheiro da Anatel.