Segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de outubro de 2023
Em 6 de outubro de 2024, as eleições municipais podem testar a força política de 20 dos 26 prefeitos de capitais brasileiras – apenas seis dessas cidades têm comandantes em segundo mandato e que, portanto, não podem concorrer à reeleição. Nas dez mais populosas, são nove aptos a tentar novo período à frente do Executivo local, e há divisão entre os que pretendem e os que dispensam contar com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele venceu o segundo turno de 2022 na metade dessas dez.
As duas cidades mais populosas do país, São Paulo e Rio de Janeiro, ilustram como partidos de centro e centro-direita – detentores do maior número de prefeituras – se separam entre estar ou não com Lula. Enquanto o paulistano Ricardo Nunes (MDB) busca aproximação com Jair Bolsonaro (PL) para enfrentar o lulista Guilherme Boulos (Psol), o carioca Eduardo Paes (PSD) tem o PT consigo e vê o bolsonarismo se articular para tentar enfrentá-lo, ao mesmo tempo em que acena à direita para neutralizar esse movimento.
Com 11,4 milhões de pessoas, a capital paulista desponta com um cenário bem desenhado a um ano do pleito, o que ainda não é realidade na maioria das grandes cidades. A tendência é mesmo que Nunes e Boulos concentrem as atenções e protagonizem embates entre si.
Fruto de insatisfação de parte do PT, o apoio ao Psol foi prometido por Lula no ano passado, e o partido do presidente vai indicar o candidato a vice. Nunes, por sua vez, costura o processo de reeleição e planeja estar cercado de partidos que lhe dariam bastante tempo de propaganda eleitoral na TV. Entre eles, o PL de Bolsonaro, de quem o prefeito se aproximou ao longo do ano. Ao mesmo tempo, ele recorre à ex-prefeita Marta Suplicy para tentar neutralizar os votos de Boulos, e também de Tabata Amaral (PSB), nas periferias, como mostrou o Valor em setembro.
No Rio, apesar de Bolsonaro ter registrado vitória na eleição, Paes é aliado ferrenho de Lula. Há uma série de pequenas insatisfações mútuas entre o prefeito e o PT, mas a avaliação é de que dificilmente a aliança será rompida. O partido do presidente tenta emplacar o vice, mas as chances são pequenas: como tem intenção de concorrer ao governo estadual em 2026, Paes tende a colocar um nome próximo no posto, a fim de entregar a prefeitura no meio do novo mandato – caso reeleito – para alguém de confiança.
Com o PT abarcado por três secretarias municipais desde o início do ano, Paes também tem se cercado de partidos como União Brasil e Republicanos, em gesto de neutralização da futura candidatura da direita. Até hoje o PL, legenda de Bolsonaro e do governador Cláudio Castro, não definiu um candidato. Castro vinha optando por alternativas ao centro – até de fora da sigla -, mas a direção partidária aposta fichas no general e ex-ministro Walter Braga Netto. Ele, contudo, reluta. Outros nomes tentam se viabilizar à direita.
Paes e Castro mantêm boa relação, e é conhecido o desejo do prefeito de cooptar o governador para sua empreitada eleitoral. O gesto isolaria o bolsonarismo raiz, mas ainda é visto com ressalvas por aliados do chefe do Palácio Guanabara.
Pesquisadora da relação entre políticos de diferentes níveis federativos, a cientista política Mayra Goulart, professora da UFRJ e coordenadora do Laboratório de Partidos e Política Comparada, explica que vários cálculos são feitos na hora de um candidato avaliar se vale ou não se associar ao presidente. Além da análise sobre o potencial de votos que o mandatário nacional pode lhe trazer, é preciso pensar também nos prejuízos, como uma eventual irritação entre opositores do presidente.
É de olho nisso que o PT, apesar de marcar posição em algumas capitais com candidaturas próprias pouco competitivas, deve firmar uma série de alianças estratégicas. O Rio, com Paes, é um exemplo, dado que o partido deixará de ter um nome próprio para compor com um aliado de centro. O mesmo chegou a ser cogitado em Belo Horizonte (MG), onde o também filiado ao PSD Fuad Noman pode concorrer à reeleição. Mas como ele é pouco conhecido da população – era vice-prefeito até o ano passado – e não é favorito, a sigla de Lula aprovou em setembro a pré-candidatura do deputado Rogério Correia.
Em Porto Alegre, o campo político de Lula não definiu quem encabeçará uma chapa de oposição ao prefeito Sebastião Melo (MDB), mas busca-se formar uma unidade. Também no Sul, Curitiba (PR) é a única entre as dez cidades mais populosas em que o prefeito, Rafael Greca (PSD), está em segundo mandato. Em 2020, a estratégia do PT foi lançar o máximo de nomes próprios. Foram 21 postulantes nas capitais e, pela primeira vez desde a redemocratização, nenhum foi eleito.