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Política Polícia Federal investiga indícios de que 171 mil dólares encontrados em cofre de diretor da Abin não eram “poupança”

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Paulo Maurício Fortunato foi afastado do posto de número 3 da agência de inteligência

Foto: Reprodução
Paulo Maurício Fortunato foi afastado do posto de número 3 da agência de inteligência. (Foto: Reprodução)

A Polícia Federal (PF) investiga os US$ 171,8 mil (R$ 859 mil) encontrados dentro de um cofre da residência do número 3 da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Maurício Fortunato. Segundo a corporação, o montante não seria fruto da “poupança” conforme ele alegou.

Fortunato foi afastado do posto no órgão após se envolver na compra e a utilização de um programa de monitoramento clandestino para localização de celulares. Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), responsável pelo combate à lavagem de dinheiro, analisou as movimentações de Fortunato e não constatou saques em espécie ou transações compatíveis com o dinheiro encontrado.

Além disso, investigadores da PF analisam as notas encontradas no cofre da residência de Fortunato. Em uma primeira análise, chamou a atenção dos policiais os dólares serem aparentemente de um lote mais recente e sequencial. Em geral, conforme os agentes, isso ocorreria se os recursos fossem sacados de uma vez só, o que seria identificado pelo Coaf.

Em depoimento à PF, Fortunato permaneceu em silêncio, sem explicar a origem dos recursos em espécie encontrados em sua residência. Ele é considerado por colegas como um “espião à moda antiga”.

Ex-integrante do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão de “arapongagem” da ditadura militar (1964-1985), Fortunato galgou posições de destaque em diferentes governos ao se especializar em operações de vigilância. Seguia à risca a missão de monitorar estrangeiros infiltrados no Brasil e ameaças terroristas na América Latina.

O oficial comandou a diretoria de operações da Abin sob a gestão do delegado da Polícia Federal Alexandre Ramagem, fiel escudeiro do ex-presidente Jair Bolsonaro. Conquistou a confiança da nova direção da agência ao cumprir missões espinhosas.

A relação, porém, ficou estremecida após um desentendimento devido ao corte de uma parcela da verba utilizada para pagar informantes. Fortunato era a favor de manter a tradição na Abin. Ramagem foi contra e redirecionou os recursos para a superintendência do Rio de Janeiro, estado pelo qual foi eleito deputado federal. Diante dessa rusga, o então diretor de operações decidiu entregar o cargo e se aposentar.

A partir daí, o oficial planejava ter uma vida mais pacata e escrever um livro sobre as experiências vividas ao longo de quase quatro décadas no serviço de inteligência. Esse plano teve que ser engavetado após receber um convite de Luiz Fernando Corrêa, ex-diretor-geral da PF e atual chefe da Abin, para assumir a secretaria de Planejamento e Gestão da agência. Fortunato topou o desafio e se tornou o número três do órgão, mesmo sob desconfiança do Congresso.

Com o passar do tempo, Fortunato se destacou na Abin, coordenando equipes e operações especiais em eventos como a Copa das Confederações, em 2013, e a Copa do Mundo, no ano seguinte. Em 2016, auxiliou na identificação de um grupo de jovens brasileiros que preparava um ataque a Olimpíada no Rio. O episódio era um dos capítulos do livro planejado por Fortunato.

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