Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 30 de outubro de 2023
A pessoa escuta, assiste ou lê algo relacionado a sintomas e passa a procurar eles em si mesma.
Foto: ReproduçãoDe “possíveis sintomas” relacionados ao transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) a comportamentos apontados como parte do transtorno bipolar, o aplicativo TikTok apresenta um cardápio extenso de sinais que podem corresponder a uma doença. A hashtag #saúdemental já conta com 3,1 bilhões de visualizações. A onda de autodiagnósticos para transtornos e distúrbios psíquicos e neurológicos, causada principalmente pelo contato com informações difundidas na internet, preocupa especialistas.
As principais consequências do avanço desse fenômeno são a automedicação e o eventual sofrimento mental relacionados à suposta “descoberta” de uma condição.
Adolescentes e jovens adultos são os mais afetados. No TikTok, por exemplo, a partir dos 13 anos já é possível abrir uma conta e o público majoritário da rede é a geração Z (nascidos entre 1990 e 2010).
Os transtornos campeões de menções em vídeos relacionados ao autodiagnóstico são o TDAH, o mais procurado da plataforma, com 4,4 bilhões de visualizações, seguido do transtorno do espectro autista (TEA), com 1,4 bilhão e o transtorno de personalidade limítrofe (conhecido como borderline), apresentando 613,4 milhões.
O professor Rossano Cabral Lima, do departamento de Psiquiatria da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), entende o processo de autodiagnóstico como algo que sempre existiu.
A pessoa escuta, assiste ou lê algo relacionado a sintomas e passa a procurar eles em si mesma. Mas Lima afirma que o diferencial encontrado nessa geração, com maior acesso à internet, é a influência do diagnóstico no processo de pertencimento ao qual o jovem está inserido. Ele passa a aliar essas características encontradas à sua formação de identidade.
Riscos
Para ele, o cenário representa duas perspectivas. Uma positiva, entendendo isso como um avanço do debate sobre a saúde mental, pois as pessoas tendem a estar mais atentas aos próprios comportamentos. No entanto, o lado negativo representa um aumento desmedido de diagnósticos sem base científica, que influencia numa busca por medicamentos, seja por canais oficiais ou não oficiais.
De mesmo modo, a psicóloga clínica Laura Cristina de Toledo Quadros, professora de Psicologia Social na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), aponta que nem todo sofrimento é sinônimo de algum problema neurológico ou psicológico. Ela explica que os jovens, muitas vezes sem maturidade, não conseguem discernir as informações fornecidas pelas redes sociais.
Efeitos colaterais
No início dos anos 90 chegou ao Brasil uma nova geração de medicamentos, anti-depressivos e antipsicóticos. Comparado aos anteriores, eles apresentam efeitos colaterais mais leves. Contudo, nem sempre são a primeira opção recomendada.
Por exemplo: os estimulantes, utilizados para tratamento do TDAH, são do grupo das anfetaminas, o que representa redução da fome, quadros psicóticos e redução do período de sono.
Por isso, o ideal é evitar se autodiagnosticar por meio de poucas informações coletadas em canais que não possuem um profissional responsável. Afinal, os transtornos e distúrbios apresentam suas próprias singularidades.