Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Tito Guarniere | 18 de novembro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O confronto direto e principal se dá entre o Hamas e Israel, isto é, entre uma facção política e um país soberano. Não é a Palestina contra Israel – os palestinos estão divididos entre a Autoridade Nacional Palestina(ANP), de Mahmoud Abbas, que controla o território da Cisjordânia e Jerusalém Oriental, e o Hamas, o grupo guerrilheiro-terrorista de Gaza.
Foi o Hamas que, de hora para outra e sem avisar, e sem ser notado pelos serviços de inteligência de Israel, atacou primeiro – ataque de surpresa contra alvos preferencialmente civis, nos assentamentos judeus, e contra um festival de música jovem, em área do deserto próximo.
O Hamas é uma facção bem armada, violenta e belicosa, que tem nos seus estatutos o objetivo de destruir Israel. Ele existe para esse objetivo : jogar Israel ao mar. Andavam quietos. O silêncio do Hamas foi mal interpretado pelos analistas israelenses, como sendo uma mudança de atitude, um recuo das intenções radicais. Não era. Era o silêncio que precede certas tempestades, – estava um curso uma ação longa, minuciosa e competente para atacar o inimigo.
Ali, naquele pedaço pequeno de mundo se trava uma batalha que vai muito além dos 22 mil quilômetros quadrados da Palestina. Envolve todos os vizinhos da região, as grandes potências como os Estados Unidos e a Rússia, praticamente todo o mundo árabe, países governados por fanáticos religiosos(Irã), além de facções como o Hezbollah do Líbano. Ou seja, é um barril de pólvora que pode explodir e ampliar a zona do conflito para os confins da terra. Não se deve menosprezar que Israel é uma potência nuclear.
É uma enorme perda de tempo procurar culpados históricos pela situação a que chegamos. Não vai a lugar nenhum porque todos olham o cenário, recortam as partes que lhe convêm, e se abraçam fervorosamente às teorias que lhes são favoráveis. Não é a primeira e nem será a última vez em que uma situação histórica se deteriora a tal ponto que tornam imprestáveis as alegações das partes, mesmo as justas e verdadeiras.
É claro que os palestinos têm suas razões. Israel deixou passar, de propósito ou por falta de visão estratégica, inúmeras oportunidades de promover um acordo (o mais possível) justo e dar sentido à criação do Estado palestino, ao lado do Estado judaico. Israel usou e abusou de expedientes de contenção e repressão para silenciar o povo palestino. Mas os israelenses sempre poderão alegar, não sem razão, de que ao menos uma parte dos palestinos, como o Hamas, nunca cogitou verdadeiramente da hipótese de paz. Ou seja, para um entendimento baseado em razões históricas e argumentos racionais, a porteira está fechada.
Não creio na solução aventada de excluir o Hamas, e entregar Gaza à Autoridade Nacional Palestina. A ANP não tem estofo militar, moral e político para assumir Gaza. Além disso, é preciso combinar com o Hamas e com Israel – chance próxima de zero.
Do modo como as coisas estão postas, a alternativa única é dar um tempo, ponderar sobre cada conjetura, explorar os desdobramentos possíveis, e no caos reinante, esperar um fato novo, um milagre na Terra Santa, o milagre da paz.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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