Domingo, 12 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de dezembro de 2023
Neste domingo (3), o governo de Nicolás Maduro dará mais um passo em um plano ousado: fazer a Venezuela anexar cerca de 2/3 do território da Guiana. O venezuelano tenta transformar a ideia em uma causa nacional: a de trazer de volta parte de um território que seria historicamente da Venezuela, mas teria sido perdido por manobras imperialistas da Europa no século 19.
Esse novo Estado que a Venezuela quer para si, da fronteira até o Rio Essequibo, corresponde a 75% do que hoje é a Guiana. É um território do tamanho da Tunísia, rico em ouro, diamantes e petróleo. A Guiana, foi território britânico até sua independência em 1966, faz fronteira com a Venezuela, com o Brasil e com o Suriname.
O presidente da Guiana, Irfaan Ali, diz esperar que a “sensatez” prevaleça, mas que está preparado se Caracas escolher o caminho da “imprudência”.
A reivindicação da Venezuela se intensificou desde a descoberta de petróleo em Essequibo pela ExxonMobil, em 2015. No mês passado, a Guiana anunciou outra importante descoberta que acrescenta, pelo menos, 10 bilhões de barris às reservas do país, tornando-as maiores que as do Kuwait e dos Emirados Árabes Unidos.
Desta forma, a Guiana possui as maiores reservas de petróleo per capita do mundo, e a Venezuela, as maiores reservas totais.
Corte internacional
A Corte Internacional de Justiça (CIJ), com sede em Haia, determinou na sexta-feira (1º), que a Venezuela deve evitar qualquer iniciativa que comprometa o status quo com a Guiana. A decisão ocorreu dois antes do referendo marcado por Caracas para decidir sobre uma possível anexação da região de Essequibo.
O tribunal determinou, sem fazer qualquer referência explícita ao referendo deste domingo, que a Venezuela deve “se abster de qualquer ação que modifique a situação atualmente em vigor no território em disputa”.
Referendo
Com o anúncio do referendo, a Guiana voltou à Corte Internacional de Justiça para avisar que enfrenta uma “ameaça existencial” e pediu um recurso urgente contra a votação na Venezuela. Em audiência na semana passada, o representante de Caracas disse que esse é um assunto “doméstico” e que nada vai impedir o referendo.
O referendo irá englobar cinco perguntas que abarcam desde a rejeição ao laudo de 1899, que fixou a fronteira do país com a Guiana, e o apoio ao Acordo de Genebra de 1966, que estipula uma saída negociada, até a criação de uma província venezuelana chamada “Guiana Essequiba”, concedendo nacionalidade venezuelana aos seus habitantes.
Também pergunta sobre a jurisdição da CIJ, que Caracas rejeita, embora tenha aceitado, a contragosto, recorrer ao tribunal para se defender.
Em contraposição, o presidente guianês, Irfaan Ali, destacou a ordem da CIJ de que a “Venezuela está proibida de anexar ou invadir o território guianês ou empreender qualquer outra ação, independentemente do resultado do referendo”.
Distração
Pesquisa divulgada pela estatal Telesur apontou que 57% dos venezuelanos defendem a união na disputa pelo Essequibo, independente das posições políticas. Apesar do apoio popular, essa não é uma unanimidade na Venezuela. A líder da oposição, María Corina Machado, pede que o referendo seja suspenso e acusa Maduro de usar a disputa para criar uma “distração” antes da eleição geral marcada para 2024.
Em acordo costurado pelos Estados Unidos, o regime se comprometeu em garantir uma votação justa. Em troca, a Casa Branca relaxou parte das sanções importas à Caracas. A oposição foi às primárias com essa garantia e escolheu María Corina Machado como candidata com mais de 90% dos votos, mesmo com a líder de centro-direita impedida de assumir cargos públicos por 15 anos.
No entanto, em mais um golpe para oposição, o Tribunal Supremo de Justiça suspendeu “todos os efeitos” das primárias, depois que aliados de Nicolás Maduro alegaram supostas irregularidades no processo. A decisão é vista pelos opositores como quebra o acordo e aumenta a incerteza que paira sobre a eleição do próximo ano./Com informações de agências internacionais.