Quinta-feira, 24 de abril de 2025
Por Carlos Alberto Chiarelli | 12 de dezembro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O governador do Estado Sinval Guazzelli, hábil administrador, pouco depois das 6h30 da manhã, acordou-me com um telefonema. Eu era secretário do Estado do Trabalho e Ação Social. Disse-me que tinha um assunto importante e que eu deveria estar no Palácio às 7h30 da manhã. Avisou-me que o secretário da Segurança estava sendo chamado para o mesmo horário.
Ao chegar ao gabinete do governador, ele me informou que na região noroeste do Estado havia uma rebelião numa aldeia de índios Kaingang. Claramente nos explicou: “Os senhores estão sendo chamados para cumprir uma missão. Evitar que ocorra um conflito entre os índios. O avião do Estado está esperando no aeroporto para levá-los”.
A orientação era para que a Brigada ficasse próxima, mas não entrasse no espaço indígena. E assim se fez: entramos os dois secretários e ficamos sabendo que a hierarquia entre os índios era elementar – o cacique, de 60 anos, no “cargo” há mais de 15 anos, não admitia falar em eleição; o outro grupo, cujo líder tinha 38 anos, insistia na eleição.
As conversas com os líderes ficaram a meu encargo como secretário do Trabalho. Com argumentos insistentes e permitindo que votassem os eleitores a partir de 10 anos e as mulheres, reivindicação do atual cacique, e, por outro lado, assegurando o voto dos jovens que, nos últimos 12 meses, tinham ido embora e agora voltavam para o pleito (reivindicação da oposição), fechou-se o acordo.
Combinei que durante o processo de votação ninguém passaria de uma corda para evitar tumulto. Só os secretários e os candidatos ficavam do lado de cá.
A votação era com “feijãozinhos”. Cada eleitor recebia um preto e um marronzinho. Havia dois sacos grandes: no saco número 1, sem mostrar o feijãozinho, o eleitor dava seu voto e, logo em seguida, punha no saco número 2, o feijão inútil. Fizemos a apuração. Ganhou o cacique por 400 a 250, aproximadamente. O vitorioso ficou feliz. O jovem sorria, faceiro; contente. Fora marcada nova eleição em 5 anos. O ambiente ficou distensionado.
Aproveitando a festa (passaram a dançar), fomos saindo.
Eu disse ao cacique: “Parabéns pela vitória. Mostrou que é um grande político”. O chefe indígena rebateu: “Não, secretário, eu sou um homem sério. Eu não sou um político.”
Carlos Alberto Chiarelli foi ministro da Educação e ministro da Integração Internacional.
(E-mails para carolchiarelli@hotmail.com)
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