Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 17 de dezembro de 2023
Fazer uma maratona etílica em uma noite é mais perigoso para a sua saúde do que o consumo constante de álcool. A conclusão é de um novo estudo que mapeou os efeitos de padrões de ingestão de bebida alcóolica — ou seja, como se bebe, em vez de apenas quanto.
Pesquisadores do University College London (UCL), do Royal Free Hospital, e das universidades de Oxford e Cambridge examinaram dados de 312,5 mil adultos que costumam beber da base de dados do UK Biobank. A intenção era verificar se havia evidências de risco aumentado de doença hepática com base nos hábitos de vida, além da presença de fatores genéticos e diabetes.
Embora se saiba que o “binge drinking” (beber sem parar em um curto intervalo de tempo) é prejudicial à saúde, pela primeira vez uma pesquisa comparou esse hábito com outras formas de consumir álcool. A conclusão foi que maratonar uma vez por semana é pior que dividir a mesma quantidade de bebida alcoólica pelo mesmo período.
O consumo médio de álcool foi calculado na pesquisa dentro quatro grupos, por quantidade: os que bebem dentro do limite (menos de 24g para mulheres e 32g para homens), acima do limite mas abaixo do binge (24g a 48g para mulheres e 32g a 64g para homens), binge (48g a 72g para mulheres e 64g a 96g para homens) e binge pesado (mais de 72g para mulheres e mais de 96g para homens).
Cerca de 20% da população bebe dentro do limite tolerável e 42% ficam acima dessa margem. Os “maratonistas” são 23%, enquanto 15% fazem maratona etílica pesada.
Padrões de consumo
Os resultados da pesquisa apontam que adultos saudáveis que bebem acima do limite diário mas menos que o binge tiveram um risco de doenças do fígado como cirrose e esteatose hepática um pouco aumentado (1,33 vez), enquanto “maratonistas” tiveram o dobro do risco (2,37). Já quem faz binge pesado quase quadruplica o risco (3,85).
Quando os pesquisadores refinaram os dados, incluindo relatos dos participantes sobre seus padrões de consumo de álcool, as conclusões foram ainda mais impressionantes. Quem descreveu seu hábito como moderado teve um aumento do risco de doenças hepáticas entre 1,33 e 2,39, enquanto as pessoas que admitiam maratonar apresentavam mais de cinco vezes mais probabilidade de consequências danosas para o fígado (5,16) e, por fim, os que faziam noitadas de bebedeira ainda mais pesadas multiplicaram esse risco por 9,38.
“Uma entre três pessoas que bebem em níveis elevados terá alguma doença séria do fígado”, afirmou o autor sênio do estudo, Gautam Mehta, da divisão de medicina da UCL e do Royal Free Hospital. “A genética tem influência, mas este estudo ressalta que o padrão de ingestão de álcool também é um fato determinante. Os resultados sugerem, por exemplo, que pode ser mais danoso beber 21 doses em duas sessões do que distribuir essa quantidade pela semana”.
O estudo também destaca conclusões anteriores sobre por que as pessoas que adotam a abordagem “ou tudo ou nada” em relação ao álcool apresentam mais risco de prejuízos para a saúde. Pesquisas iniciais apontam para a possibilidade de as maratonas etílicas aumentarem os níveis de proteínas bacterianas (lipopolissacarídeos) e citocinas pró-inflamatórias, dois fatores cruciais para as doenças do fígado.