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Colunistas O direito de não ser pessimista

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O professor canadense Steven Pinker se atreveu recentemente a enfrentar os críticos e os profetas do fim do mundo. (Foto: Divulgação)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Os tempos atuais andam tão tumultuados que o otimismo passou a ser visto com certa desconfiança. Não parece muito conveniente expressar esperança quando as mudanças climáticas representam uma ameaça crescente, a Inteligência artificial embute imensos dilemas éticos e o risco nuclear está longe de ser dissipado. Se hoje são esses três os cavalos do apocalipse, até há bem pouco tempo a superpopulação, conjugada com a escassez de alimentos tiravam o sono do mundo. Esse flerte permanente com o pessimismo, a par de tornar as políticas mais vigilantes, esconde, até certo ponto, a capacidade da ciência e do engenho humano em superar os desafios interpostos, de uma maneira tal que em outro sentido teríamos que admitir dotados da mais extraordinária sorte. Obviamente, um olhar menos cético para o porvir não deve ser confundido com desdém aos riscos, muito menos uma visão ingênua que poderia inclusive potencializar o que já é por demais perigoso.

Quem se atreveu recentemente a enfrentar os críticos e os profetas do fim do mundo foi o professor canadense, Steven Pinker, e o fez de modo tão convincente que arrancou efusivos elogios de Bill Gates, a ponto de qualificar “O Novo Iluminismo” como o seu livro favorito de todos os tempos. Exagerado ou não, o comentário do dono da Microsoft dá bem a dimensão da defesa entusiasmada que Pinker faz dos avanços da modernidade. Mais até do que isso, ele contesta, com robustas evidências, o catastrofismo que ronda não apenas o senso comum, mas o jornalismo de modo geral. Por certo, isso não significa que os riscos atuais devam ser desconsiderados, mas as evidências em favor da capacidade de soluções serem tempestivamente construídas confere, senão tranquilidade, um sopro de esperança nesse mar de desconsolo em relação ao futuro que a sociedade enfrenta.

No Brasil, nossos cavalos do apocalipse são menos dramáticos do que aqueles apontados por Steven Pinker, porém localmente não menos angustiantes. Por aqui, sofremos dos mesmos problemas climáticos que atormentam o planeta, padecemos sob as mesmas espadas da Inteligência Artificial e do risco nuclear, e adicionalmente nos deparamos com um País politicamente ainda bastante dividido. Nosso eterno “complexo de vira-lata” que o dramaturgo Nélson Rodrigues pretendia circunscrito ao trauma sofrido na Copa do Mundo de 1950, acabou por se juntar à crítica social de Sérgio Buarque de Holanda, com o “nosso homem cordial” e a cristalização da ideia de que somos emoção em vez de razão, teoria tão longeva quanto cada vez mais exposta a críticas, a mais ácida delas atualmente vindas do sociológico Jessé Souza, até porque a quem interessaria defender que somos indolentes, preguiçosos e sem preocupação com o futuro?

Hoje, nossas aflições incluem um quadro persistente de desigualdade social, racismo estrutural, violência, miséria, projeção de déficits fiscais, corrupção, educação de péssima qualidade, dentre outras conhecidas mazelas nacionais, que intuem o reconhecimento de que, diante desse quadro, não há futuro possível. Entretanto, nesse mesmo país de tantas injustiças sociais e problemas crônicos, cultivamos inúmeras áreas de excelência, escolas que funcionam, cidades que conseguiram avançar e se desenvolver, um agronegócio vibrante e competitivo, uma base industrial, que embora em declínio, possui resiliência para uma forte retomada, especialmente após a aprovação da reforma tributária, um potencial turístico extraordinário e um povo jovem e unido pela mesma língua e costumes que podem ser canalizados para uma mudança necessária e possível. Esse otimismo consciente não significa abrir mão da necessária e eterna vigilância contra a ineficiência, contra a malversação do erário e muito menos admitir pactos de mediocridade, mas reconhecer que não será amaldiçoando a política que iremos melhorar os políticos, não será pregando o caos que iremos mudar o quadro atual e muito menos não será apequenando o nosso passado e nossas conquistas que teremos o respeito de que tanto precisamos.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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