Domingo, 12 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de dezembro de 2023
Para pegar o chocotone na prateleira e colocá-lo no carrinho do supermercado, a assessora de comunicação Ede Cury precisou de ajuda, por causa do peso e do tamanho família da caixa. Com quatro quilos e embalado em uma caixa sextavada de quase meio metro de diâmetro, o mega chocotone chamava atenção de quem passava em frente a gôndola.
“É tão grande que fica lindo na mesa de Natal e do Ano Novo”, disse Ede, que tem o hábito de compra produtos em grandes volumes – como sabão de lavar roupas líquido em frascos de dois litros, queijo fatiado em pacote de um quilo entre outros itens. “Eu viajo muito e não tenho tempo de ficar fazendo supermercado. Então, essas embalagens maiores me ajudam muito”, diz ela, que assessora o cantor sertanejo Leonardo e o acompanha em seus shows pelo Brasil.
Na pandemia e no período de inflação mais alta que se seguiu, as embalagens encolheram: o sabão em pó, tradicionalmente era vendido em caixas de um quilo, passou a ter 800 gramas; a farinha láctea, da lata de 800 gramas, foi relançada com metade do peso, e os tabletes de manteiga de 200 gramas passaram a ter 100 gramas. O mesmo aconteceu com biscoitos, detergentes e muitos outros itens.
“Com a inflação em alta, as pessoas não estavam podendo gastar e, por isso, a indústria diminuiu as embalagens na tentativa de fazer o consumidor continuar comprando, desembolsando menos”, diz Alessandro de Luca, da empresa de pesquisas de consumo Horus. Esse fenômeno, diz, ganhou o nome de “reduflação”.
A queda da inflação, do pico em abril de 2022, quando IPCA bateu em 1,06%, para 0,28% no mês passado, tem um efeito positivo no poder de compra do consumidor, hoje mais atento ao valor do que compra. “Hoje todo mundo tem uma calculadora na mão, que é o celular. E as pessoas fazem contas na frente das prateleiras, sim”, diz Gilson Mazetto, vice-presidente comercial da Ypê, que neste ano lançou o sabão em pó em caixa de 2,2 quilos.
Em 2022, segundo a Horus, nenhum lançamentos da indústria teve embalagem maior que a tradicional. Já neste ano, quase 6% vieram acima do padrão – fenômeno chamado de “upsizing”.
Mas como custa mais, a embalagem maior tem de ser econômica. “O custo por unidade precisa ser mais baixo”, diz Felipe Votish, diretor de merchandising da Nestlé. A lata de farinha láctea da marca, por exemplo, custa em média R$ 18 na versão de 400 gramas. Já na “supereconômica”, de 780 gramas, sai por R$ 32. Na primeira, cada 100 gramas custa R$ 4,50, contra R$ 4,10 na segunda, 8,88% menos.
Em algumas categorias, o desconto é ainda maior. O chocolate Diamante Negro, da Mondelez, custa R$ 2,49 na embalagem tradicional, de 20 gramas. A tamanho família, lançada este ano, com 165 gramas, é vendida por R$ 13,98. Na primeira, 10 gramas custam R$ 1,24, contra R$ 0,84 na segunda – 32% menos.
Consumidores de menor poder aquisitivo também estão aderindo à embalagens maiores. “Fizemos visitas a casas de consumidores das classes C e D em Pernambuco, recentemente, e descobrimos que eles compram as embalagens maiores em duas ou até três famílias e dividem entre si”, diz Mazetto.
A indústria também ganha com isso. A Ypê, por exemplo, aumentou em 12% as vendas de lava-roupas em pó depois do lançamento da caixa de 2 quilos, diz Mazetto. “Ganhamos com a fidelização do cliente.”
A embalagem também é um componente do preço do produto e custa menos à indústria se a unidade for maior. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.