Domingo, 12 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de janeiro de 2024
O governo tenta marcar um grande encontro com líderes evangélicos para o começo de fevereiro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabe que precisa se aproximar do segmento, que representa cerca de 30% dos eleitores e ainda resiste a seu terceiro mandato.
Na Conferência Eleitoral do PT, em 8 de dezembro, Lula mostrou preocupação com esse afastamento. “Como é que a gente vai chegar aos evangélicos?”, perguntou. “Nós temos que aprender a conversar com essa gente, que é trabalhadora e de bem.”
O ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, é um dos que têm procurado ajudar na tarefa. “Acho que devemos apostar na estratégia do diálogo, com a qual se constrói confiança, para entender quais são as preocupações”, disse .
O ministro é frequentador da Igreja Batista. “Sou desde pequeno, quando não era moda ser evangélico. Minha mãe me levava aos cultos”, contou. Para ele, muitas das apreensões dos líderes religiosos, voltadas à família, são legítimas.
Pesquisas mostram que a maioria dos evangélicos ainda apoia o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Lula fala em se aproximar do segmento, mas vetou destaque na LDO que evitava gasto do dinheiro público com políticas a favor do aborto e da ideologia de gênero”, criticou o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), da bancada evangélica.
Campanhas
Em um mercado, uma vizinha compra uma lata de leite em pó a uma criança sem condições de pagar pelo alimento. “Glória a Deus”, agradece a mãe do jovem. Este é o enredo de uma campanha publicitária do Bolsa Família, divulgada pelo governo federal em dezembro do ano passado, que foi interpretada como um aceno aos evangélicos por usar uma linguagem típica nas igrejas. A peça, no entanto, não agradou parte do setor religioso que se identifica com a direita conservadora.
Entre os críticos está o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que gravou um vídeo para suas redes sociais. De acordo com o líder protestante, o vídeo tem como intuito enganar os evangélicos mais pobres.
“Nós evangélicos entendemos que não é Lula nem Bolsonaro, mas que as respostas que precisamos vem de Deus. (…) Lula humilha, ridiculariza os evangélicos como se fôssemos uma cambada de ferrados e pobretões dependentes de governo. Ele não conhece a comunidade evangélica.”
Até mesmo os trajes da mãe do jovem na propaganda foram reparados pelo pastor. A atriz usa cabelo preso, camisa de botão com mangas e saia longa.
O deputado federal Pastor Marco Feliciano (PL-SP), da Assembleia de Deus em Belém, caracterizou a publicidade como “inacreditável”.
“Essa propaganda foi feita de cabeça pensada para tentar aliciar os evangélicos mais simples. Ele sabe da rejeição que sofre entre nós por conta da sua nefasta ideologia política que é comunista. Não nos enganará! Domingo pastores do Brasil todo falarão em seus púlpitos sobre esta humilhação que ele nos fez passar com esta propaganda ordinária.”
A rejeição ao qual o parlamentar se refere aparece em pesquisas. Segundo o último Datafolha publicado em dezembro deste ano, 38% dos evangélicos consideram o governo “ruim”, a maior resistência do petista entre grupos.
Além da peça do Bolsa Família, outros vídeos de programas de governo como o “Minha Casa, Minha Vida” também são questionados. Nesta gravação, um menino conta ao amigo que se mudará e o mesmo responde “Ô, Glória”. Já em relação ao Novo PAC, uma mulher diz “Graça alcançada, Senhor!” ao receber a notícia de que sua neta conseguiu um emprego em uma obra do governo.
Também em dezembro, antes do Natal, o governo exibiu uma peça sobre dois familiares que brigaram por causa da vacina contra a covid e voltaram a se reunir e fazer as pazes na ceia. O cantor gospel Kleber Lucas ainda canta o jingle “Um Brasil é um só povo”, enquanto a cena acontece.