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Carlos Alberto Chiarelli Um amigo chamou no sábado

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Era um sábado, véspera de carnaval. Estava na reitoria da Católica, onde tinha meu gabinete de vice-reitor. Estava aproveitando que não havia expediente externo para, acompanhado apenas do pessoal da limpeza e da segurança, reunir processos – nem muitos, mas não tão poucos – que levaria para a Barra do Chuí. Tinha uma expectativa teórica de profundas horas de descanso já que os últimos dias foram marcados por muitos compromissos quer no escritório, quer na justiça do trabalho ou no fórum.

Estava atento ao relógio, já que prometera, na segunda-feira de manhã quando vim da praia, a minha mulher que ela podia contar comigo ao meio dia de sábado para o almoço do fim de semana, isso sem levar em conta as cobranças do Mateo e da Stefania que achavam o pai muito ausente.

Reuni processos – nem muitos, nem tão poucos – que levaria para praia. Tinha propósito de descansar. Antes de concluir a revisão geral, soou o telefone, aliás já tocara uma vez e eu não dera bola. Aprontei-me com uma sensação de quem estava livre. Afirmei pra mim mesmo “estou livre desse chato que insiste’’. Enfim consegui com esforço fechar a malinha e a coloquei fora da sala puxando a porta. Enquanto ela se fechava o telefone deu mais duas chamadas. Com a chave na mão iniciei a operação final. Nesse momento o telefone voltou a chamar – eu, que não estava para brincadeira, fui quase ríspido, perguntando: quem atrapalhava a planejada viajem de lazer.

Sorrindo (como quem comunicava algo favorável) me noticia uma voz amigável:“ é o Prieto, o Arnaldo Prieto, deputado e amigo. Logo pensei: ele não daria esse telefonema nesse dia e nessa hora sem algum assunto importante e urgente.

Ao saber-me no telefone, foi que o Prieto abriu o jogo. Estou no Rio desde ontem por que vim a chamado. Hoje de manha visitei o escritório de Governo futuro do General Geisen, que ali esta montando sua equipe. Quero te contar uma novidade: ele me surpreendeu convidando-me para ser futuro Ministro do Trabalho e Presidência. Dei parabéns com o sentimento de amigo e ele ficou faceiro. Foi dizendo: quero falar contigo, amanhã, em Porto Alegre.

Voltei a cumprimentá-lo e disse: estarei a tua disposição mas só na segunda feira depois do carnaval.

Ele me aparteou: “Tu és o cara que sabes tudo de Sindicato, da CLT, de acidente de trabalho, etc etc .

Interrompi o discurso do amigo insistindo e reiterei : Ministro estarei a tua disposição na segunda feira depois do carnaval.

Não pode ser por que ai vamos perder tempo, eu preciso trocar algumas opiniões contigo e concluiu , não estou atualizado sobre o Sindicato , a CLT, as greves , os acidentes de trabalho e outras coisas. O outro com quem conto é o Jorge Furtado(que entende de emprego , Mao de obra, etc). Respondi : muito bem , fizeste uma boa escolha . Ele insistiu. Com ele combinei uma reunião segunda feira a tarde em Porto Alegre, mas tu precisas estar junto.

Prieto, o que eu posso te prometer é que estarei as tuas ordens depois de cumprir o que prometi a minha família. O teu motivo é relevante mas, tu sabes bem, a família é prioritária. Despedi-me do Ministro que estava muito feliz e fui cumprir o meu programa que fazia parte da minha definição de prioridade.

Cedi em parte. Acabamos fazendo uma reunião em Porto Alegre na quinta feira. Enfim atendera quase totalmente a família já que voltei de Porto Alegre para a Barra do Chui e também ao Ministro que queria conversa antes da segunda feira de carnaval.

Praticamente o telefone que eu quase não atendi e a reunião que saiu depois do dia que não estava programado pelo Ministro, nem por mim, mudou a minha vida. Na verdade acabei com encargos continuados, e reuniões fizeram-me um escravo dos compromisso com um terceiros. Passei a ser empregado da coletividade.

Carlos Alberto Chiarelli foi ministro da Educação e ministro da Integração Internacional

E-mails para: carolchiarelli@hotmail.com

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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