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Mundo Argentina fecha 2023 com inflação de 211%, maior que a da Venezuela

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Pioram cenários externo e interno para a inflação. (Foto: Reprodução)

A Argentina encerrou o ano de 2023 com a inflação mais alta em mais de 30 anos. Os preços ao consumidor aumentaram 211,4% em dezembro em relação ao ano anterior, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) publicados hoje. Em dezembro, houve aumento de 25,5% em relação a novembro, abaixo da estimativa mediana de 30% dos economistas consultados pela Bloomberg.

O resultado superou até mesmo o da Venezuela, que fechou o ano com inflação de 193%. No país dirigido por Nicolás Maduro, a escalada de preços ainda é a mais alta do mundo, mas está caindo drasticamente diante dos 305% em 2022. Especialistas apontam para uma tendência de queda.

“A principal engrenagem de transmissão do processo inflacionário é a taxa de câmbio”, explicou à AFP o economista Hernán Letcher, em alusão à desvalorização de mais de 50% do peso decidida em 13 de dezembro pelo governo de Milei, dois dias depois de assumir o cargo. Essa desvalorização pressagiava uma alta taxa de inflação em dezembro.

O setor de bens e serviços na Argentina teve o maior aumento, de 32,7%, resultado da alta dos artigos de cuidado pessoal. Saúde veio em seguida (32,6%), impulsionada pelas variações dos medicamentos e consultas particulares.

Já o setor de transportes avançou 31,7% devido aos aumentos dos combustíveis. No quesito alimentação, cuja alta foi de 29,7%, a pressão veio pelo aumento no preço das carnes e derivados, além de pães e cereais.

Desde que assumiu a presidência, em 10 de dezembro, Milei desvalorizou o peso em 54% e eliminou os controles de preços de centenas de produtos de consumo diário, revertendo as políticas impostas pelo ex-ministro da Economia Sergio Massa, que concorreu contra ele ao cargo.

Em seu discurso de posse, Milei preparou o país para os meses difíceis que estão por vir, reiterando que “não há dinheiro” e que a Argentina corria o risco de hiperinflação se não mudasse de rumo. Isso não impediu que os sindicatos de trabalhadores convocassem uma greve geral para 24 de janeiro, nem que os argentinos batessem panelas nas ruas em protesto contra suas medidas de austeridade.

O cenário enfrentado pelos argentinos é resultado de uma crise financeira e cambial — que teve início, entre outros pontos, no desequilíbrio da balança de pagamentos.

Uma das medidas de Milei que ajudou a potencializar a alta dos preços em dezembro é o “Plano Motosserra”. O projeto prevê, entre outros pontos, a desvalorização do peso, redução de subsídios e mudanças em licitações.

Também entra na conta o “decretaço”, que revoga ou modifica mais de 350 normas, viabiliza a desregulamentação econômica do país e inclui uma reforma trabalhista — ponto que foi suspenso pela Justiça.

Plano Motosserra

Em 12 de dezembro, o novo ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo anunciou um pacote fiscal com nove medidas para tentar conter a crise econômica que afeta o país.

O ajuste foi chamado na imprensa de “Plano Motosserra”, em referência à motosserra que Milei exibiu na campanha para presidente e que simbolizava o que o, à época candidato, queria fazer com os gastos públicos — cortá-los brutalmente.

As medidas têm o objetivo de recompor as contas públicas argentinas.

Nesse sentido, economistas afirmaram que o ajuste fiscal de Milei deve realmente seguir o caminho de piorar os índices de inflação e atividade, mas fazem parte de um caminho para reduzir o déficit do país e acumular reservas internacionais.

Como estão previstos fim de subsídios públicos, uma desvalorização da cotação do peso em relação ao dólar e descongelamento de preços de itens básicos, a tendência é justamente uma alta na inflação.

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