Quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 12 de fevereiro de 2024
O Bradesco anunciou um plano de reestruturação na última semana após registrar queda de 21,2% no lucro de 2023, que ficou em R$ 16,3 bilhões. A rentabilidade, medida pelo chamado Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE), caiu de 11,3% para 6,9% – o que deixou a instituição longe de seus principais concorrentes.
Só no dia do anúncio do plano, na última quarta-feira, as ações do Bradesco fecharam em queda de 15,9%, cotadas a R$ 13,96. Passado o impacto inicial dos números, o mercado avalia como a reestruturação poderá mexer com o balanço futuro do banco. Também há uma discussão sobre se o preço atual do papel negociado na Bolsa de Valores abre oportunidades para ganhos maiores no médio e longos prazos.
De forma geral, a redução na rentabilidade refletiu a disparada da inadimplência no ano passado, com pico no terceiro trimestre, quando o indicador chegou a 6,1%. Em dezembro, o índice recuou 0,9 ponto porcentual, para 5,2%. Sem considerar o calote da Americanas, que entrou em recuperação judicial com mais de R$ 43 bilhões em dívidas, a inadimplência cairia de 5,6% para 5,1%.
Com números assim, o Bradesco também viu um salto nas Provisões para Devedores Duvidosos (PDD), que foi de R$ 32,3 bilhões, em 2022, para R$ 39,5 bilhões em 2023 – um crescimento de 22,4%. Esse dinheiro é utilizado para cobrir o não pagamento de dívidas e empréstimos feitos pelos clientes do banco.
Em meio aos problemas, o Bradesco anunciou a troca de CEO em novembro do ano passado, com a saída de Octávio Lazari para a entrada de Marcelo Noronha. O novo presidente afirmou que o plano de reestruturação deve ser concluído em cinco anos e que não será executado “de forma estática”.
As mudanças começaram no andar de cima. Noronha afirmou que houve redução em cargos de diretoria para cortar custos e elevar a eficiência do banco. Com a mudança, algumas unidades de negócio, como atacado, “wealth management” (gestão de fortunas), varejo, negócios digitais e crédito, vão passar a responder diretamente ao CEO.
O banco também fixou uma meta de colocar 75% das transações na nuvem até 2025. Atualmente, a empresa está com 45% das transações na nuvem. Neste ponto sobre tecnologia, analistas do mercado financeiro argumentam que o Bradesco poderia ter ficado para trás entre os pares.
Questionado pelo site E-Investidor, o novo CEO negou essa possibilidade. Noronha disse que o Bradesco é o único banco no Brasil que trabalha com uma inteligência artificial (a Bia), e que a instituição financeira já estava no caminho para essa mudança. “Não estamos atrás dos concorrentes, mas vale lembrar que os frutos dessas inciativas não serão colhidos imediatamente.”
Para Ramon Coser especialista da Valor Investimentos, a queda das ações na semana passada foi uma resposta ao balanço, que não agradou ao mercado. “No entanto, o plano de reestruturação é positivo”, comenta Coser.
Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, destaca que o plano apresentado pela companhia é promissor. “A parte de RH e de tecnologia estão bem contempladas. Todavia, essa redução da hierarquia não deve diminuir totalmente os custos do banco. O que precisa melhorar é a lucratividade e a rentabilidade”, afirma Soares.
Já Angelo Belitardo, gestor da Hike Capital, diz que o plano tem sido visto com bons olhos, mas não parece suficiente. Ele comenta que a empresa precisa reequilibrar rapidamente os níveis de riscos dos clientes em sua carteira de crédito para que haja reflexo em indicadores de inadimplência, assim como de cobertura de provisões e indicador de eficiência operacional. “A redução de custos operacionais é essencial, mas a prioridade deve ser analisar a estrutura de risco em sua carteira de crédito, assim como no relacionamento com investidores e clientes para recuperar os níveis de captação.”
Sobre investir na ação do Bradesco, os analistas sugerem dois caminhos. O primeiro é para aquele investidor que não tem receio de se arriscar na volatilidade do mercado. Coser, da Valor, diz que o papel é atrativo para o investidor que acredita na tese do Bradesco e que “busca o lucro com a ação no longo prazo”.
Já Belitardo, da Hike Capital, acredita que o papel fica interessante se a faixa de preço cair para o patamar dos R$ 11,30. “O ativo negociado nesse nível implica um múltiplo aproximado de 7 vezes o lucro apurado nos últimos 12 meses.” Soares, da Órama, diz que gosta do Bradesco, mas não acredita que o plano de reestruturação deve gerar gatilhos de alta para o papel nos próximos 12 meses. Por isso, ele tem recomendação neutra com preço alvo de R$ 18, uma alta de 33,7% em relação ao fechamento das ações na última sexta-feira. No acumulado do ano, o banco registra queda de 21,2%, com os papéis cotados a R$ 13,46. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.