Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 14 de fevereiro de 2024
Um estudo publicado nesta quarta-feira (14) alerta que a Amazônia pode atingir um ponto de não retorno até 2050, ou seja, a floresta está no início de colapso parcial ou total. A degradação da vegetação pode acelerar o aquecimento global, segundo os cientistas. O artigo, liderado por pesquisadores brasileiros, é capa da revista Nature.
A estimativa dos pesquisadores é que, até a metade do século, um montante de 10% a 47% da floresta esteja exposto a ameaças consideradas graves que podem levar a transições no ecossistema.
O aumento das temperaturas, as secas extremas, o desmatamento e incêndios florestais podem ter impacto no clima: redução das chuvas na região e aumento do risco de um colapso em larga escala.
“O ponto de não retorno é um ponto a partir do qual o sistema se retroalimenta numa aceleração de perda de florestas, e perdemos o controle”, explica um dos líderes do estudo internacional, Bernardo Flores, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O trabalho foi realizado em parceira com a pesquisadora Marina Hirota.
Com base em revisões de artigos e modelagens estatísticas, os cientistas apontam os principais fatores de estresse na Amazônia e determinam quais seriam os limites críticos para cada um deles que, se ultrapassados, podem levar ao colapso do bioma. São eles:
Os cientistas afirmam que, nas últimas décadas, a Amazônia começou a enfrentar uma “pressão sem precedentes”, resultado de alterações climáticas e de uso do solo. Essas ações enfraquecem os mecanismos de feedback que garantem a chamada “resiliência” da floresta.
As árvores na floresta amazônica diariamente transportam grandes volumes de água do solo para a atmosfera, o que eleva a umidade atmosférica e contribui para o aumento das chuvas. Essa relação fortalece a resiliência que está enfraquecendo, e sendo substituída por mecanismos que aumentam o risco de uma “transição crítica” — a perda florestal irreversível.
O alerta global para a perda da floresta está ligado a grandes quantidades de carbono que seriam emitidas na atmosfera — o que pode acelerar o aquecimento do planeta. A pesquisa aponta que a perda de florestas em grandes regiões da Amazônia acaba por reduzir a circulação da umidade atmosférica.
As consequências do impacto no regime de chuvas atingem desde as regiões próximas no continente até outras partes do mundo, como a Ásia e a Antártida.
Frear o desmatamento e a emissão de gases
Para impedir a degradação da floresta, o estudo destaca três tipos principais de trajetórias, as quais incluem regiões de florestas degradadas, savanas de areia branca e áreas não-florestais degradadas – o que aumenta o risco de espalhar incêndios.
“Em alguns casos, a floresta pode se recuperar, mas permanece presa em estado degradado, dominada por plantas oportunistas, como cipós ou bambus. Em outros casos, a floresta não se recupera mais e persiste presa em estado de vegetação aberta e com incêndios recorrentes”, explica Flores.
Os cientistas acreditam na combinação entre esforços locais para acabar com o desmatamento e expandir a restauração da floresta e esforços globais para parar a emissão de gases de efeito estufa, para mitigar assim os impactos das mudanças climáticas.
A pesquisa foi desenvolvida ao longo de três anos com financiamento do Instituto Serrapilheira. Entre os 24 autores do artigo, 14 são do Brasil.