Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 26 de fevereiro de 2024
A forma como parte do cérebro detecta e responde a ameaças em potencial pode ser afetada pelo ambiente em que crianças vivem. Publicado pela Associação de Psicologia Americana na revista Developmental Psychology, um estudo mostrou como bairros com altos níveis de violência podem resultar em uma saúde mental precária nos mais novos.
“Décadas de pesquisa mostraram que crescer em bairros com desvantagens concentradas pode prever resultados negativos em termos acadêmicos, comportamentais e de saúde mental em crianças e adolescentes. E pesquisas recentes estão começando a mostrar que uma maneira de fazer isso é impactando o cérebro em desenvolvimento”, disse em comunicado Luke Hyde, pesquisador da Universidade de Michigan, nos EUA.
A equipe de pesquisadores testou a hipótese de que o ambiente estaria afetando as crianças por meio das amígdalas cerebrais, que têm relação com o processamento de ameaças e com a aprendizagem do medo. Pesquisas anteriores demonstraram que crianças que sofreram abuso ou negligência por parte de familiares apresentam maior reatividade nessas estruturas ao olhar para rostos com expressões neutras, temerosas ou negativas.
Por isso, foram analisados dados de 708 crianças e adolescentes entre 7 e 19 anos de idade de 354 famílias inscritas Michigan Twins Neurogenetic Study com o objetivo de analisar se a exposição à violência de um bairro poderia afetar essa reatividade.
Além de responder a perguntas sobre sua exposição à violência, relacionamento com os pais e estilo de criação, os participantes tiveram seus cérebros escaneados por ressonância magnética enquanto olhavam para rostos com expressões de raiva, medo, felicidade ou negatividade.
Dos participantes, 54% eram meninos, 78,5% eram brancos, 13% eram negros, e 8% eram de outras etnias. A maioria vinha de bairros com níveis de pobreza acima da média calculada pelo Departamento do Censo dos Estados Unidos e que variavam entre áreas rurais, urbanas e suburbanas na cidade de Lansing e arredores.
Aqueles que moravam em bairros mais desfavorecidos relataram maior exposição à violência na comunidade, e foi descoberto que uma maior exposição a essa violência levou a níveis mais altos de reatividade da amígdala a rostos com expressões de medo e raiva. Mesmo quando se controlou a renda das famílias, a educação dos pais e outras formas de exposição à violência em casa, o resultado se manteve.
“Apesar de viverem em uma vizinhança desfavorecida, as crianças com pais mais carinhosos e envolvidos não tinham a mesma probabilidade de serem expostas à violência na comunidade e, para aquelas que foram expostas, ter um pai mais carinhoso diminuiu o impacto da exposição à violência no cérebro”, disse Gabriela Suarez, estudante de pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento na Universidade de Michigan.
Ainda que pais carinhosos pareçam ser capazes de romper com a relação entre a violência e a reatividade da amígdala, o estudo reitera a necessidade de criar soluções estruturais para proteger as crianças dos impactos negativos da exposição à violência.
“Os pais podem ser um importante amortecedor contra essas desigualdades estruturais mais amplas e, portanto, trabalhar com eles pode ser uma maneira de ajudar a proteger as crianças, enquanto também trabalhamos em políticas para reduzir a concentração de desvantagens nos bairros e o risco de exposição à violência na comunidade”, afirmou Alex Burt, coautor do estudo.