Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 24 de março de 2024
Uma inteligência artificial (IA) capaz de detectar mentiras está sendo desenvolvida por quatro instituições de ensino estadunidenses e já conseguiu atingir 84% de precisão. O objetivo inicial do projeto era treinar o software para identificar quando o CEO de uma empresa está mentindo para os analistas financeiros visando influenciar investimentos. Para essa tarefa, a ferramenta observa 32 parâmetros linguísticos associados à enganação intencional para distinguir entre falas verdadeiras e mentirosas. Até o momento, os resultados são promissores e a intenção é expandir a capacidade da IA.
O estudo está sendo conduzido por acadêmicos da Faculdade Estadual de Negócios e Economia de Boise, da Universidade do Texas, da Universidade Estadual do Arizona e da Universidade de Nevada. De acordo com um dos pesquisadores, Steven Hyde, “ter atingido esse nível de precisão foi apenas o começo”. A seguir, saiba mais detalhes sobre o projeto.
IA que detecta mentiras: como ela foi desenvolvida
O projeto começou a partir da necessidade de identificar quando CEOs usam inverdades para manipular os rumos do mercado. De acordo com Hyde, os analistas financeiros são peças-chave na equação, já que reúnem informações relevantes e as usam para orientar empresas e indivíduos sobre a melhor forma de investir o dinheiro. No entanto, esses profissionais podem ter dificuldade de distinguir quando são enganados, o que pode levar a graves consequências.
Em geral, os seres humanos tendem a acreditar que as informações que recebem são verdadeiras, seja por virtude ou simplesmente por não conseguirem comprovar uma mentira. Esse fato é baseado na teoria chamada “Truth-default theory”, ou “Teoria do Padrão de Verdade”, criada por Timothy R. Levine, que aponta que a desconfiança só é ativada se houver algum sinal de contradição. Estudos indicam que em apenas 47% das vezzes as pessoas são capazes de identificar quando estão sendo enganadas.
Para tentar solucionar o problema, os pesquisadores decidiram criar uma ferramenta capaz de detectar mentiras. A primeira fase do projeto foi a construção de um catálogo robusto com falas de CEOs de empresas idôneas, que estão entre as 500 primeiras no índice da Standard and Poor. Em seguida, foram coletadas amostras de falas de executivos conhecidos por falar inverdades. Esses dados foram usados para alimentar a IA, que foi treinada para identificar os padrões críticos nas falas.
O software se tornou capaz de detectar os indicadores linguísticos que surgem quando uma inverdade é dita. A ferramenta ainda tem suas limitações, já que não consegue identificar pequenas inverdades, apenas declarações que estão obviamente sendo usadas para manipular o interlocutor.
IA que detecta mentiras: como pode ser usada
Uma ferramenta com a capacidade de reconhecer mentiras pode ter implicações importantes na sociedade. Inclusive, pode se tornar um agente fundamental para combater notícias falsas e deep fakes. O recurso também deve auxiliar autoridades a desvendar crimes e tornar mais difícil a vida de CEOs e políticos que desejam manipular pessoas com seus discursos. Por enquanto, o software elaborado pelos acadêmicos utilizou apenas falas transcritas para detectar mentiras, mas é possível que as novas tecnologias com aprendizado de máquina sejam capazes de ler expressões faciais e corporais para criar um perfil psicológico completo do interlocutor.
Apesar de promissor, o avanço tecnológico pode ter impactos negativos na sociedade. Afinal, mentir é considerado um traço evolutivo essencial que permite uma melhor convivência. As chamadas “mentiras sociais” são usadas no cotidiano para evitar conflitos e preservar boas relações. Um exemplo bem comum é quando alguém se atrasa para um compromisso e coloca a culpa em um engarrafamento inexistente, ou quando uma pessoa afirma ter uma habilidade para conseguir um emprego sem ter. No futuro, quem sabe, essas pequenas inverdades podem estar ameaçadas.