Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 28 de março de 2024
O diretor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, afirmou em coletiva de imprensa, nessa quinta-feira (28), que a vacinação para dengue pode levar até oito anos para surtir efeitos reais em epidemias da doença, conforme estudos realizados sobre o tema. Além disso, o especialista ressaltou a importância de que se reforcem o trabalho de prevenção de focos de transmissão do mosquito aedes aegypti, o agente transmissor da doença.
“É importante ressaltar que a vacina que está disponível requer duas doses e são precisos três meses entre uma dose e outra. A vacina não é uma ferramenta para controlar a transmissão nesse momento. Há estudos realizados que demonstram que só oito anos de vacinação poderiam ser capazes de causar impacto na transmissão da dengue. A grande ferramenta de controle segue sendo a eliminação dos criadores do mosquito, seja no domicílio das pessoas, seja em ambientes públicos como parques, praças e comércios”, afirmou Jarbas.
O sanitarista ressaltou ainda que a produção da vacina QDenga, da farmacêutica Takeda, ainda tem produção em “quantidade limitada”. O Brasil, ele diz, é o país do mundo que mais utiliza o imunizante. A Argentina também já aplica fármaco. O uso das aplicações nas duas nações, afirmou Jarbas, é positivo pois ambas contam com um serviço de vigilância organizado que pode dar mais informações sobre o imunizante “na vida real”.
“Como se trata de uma vacina nova, deverá ser acompanhado seu comportamento diante de diferentes sorotipos. O estudo clínico de fase 3 dessa vacina, por exemplo, ocorreu em uma época que, por exemplo, o sorotipo 3 (da dengue) não estava circulando. Com a vacina sendo usada em tempo real, teremos dados de sua eficiência também neste sorotipo”, afirmou.
Na avaliação do diretor da Opas, a vacina do Butantan, única do mercado em dose única, só deverá estar disponível à população em 2025.
Questionado sobre a alta de óbitos em investigação da doença no Brasil (ou seja, sem a determinação oficial da causa da morte), o especialista diz que a doença se comporta de maneira específica e que a grande maioria dos casos são leves ao ponto das pessoas não procurarem um serviço de saúde.
“Elas acreditam que estão com uma virose, alguma outra coisa”, afirmou. “Os óbitos em investigação são importantes porque, por vezes, a pessoa que tem dengue também tem outra doença, uma comorbidade. Por isso, é importante o uso de critérios internacionais e unificados para identificar se é uma morte diretamente ligada à dengue ou não.”
O especialista ressaltou que o Brasil conta com um bom sistema de vigilância e tem letalidade baixa pela doença, uma média inferior a 0,05%. Contudo, afirmou que é possível reduzir ainda mais esse indicador. Para isso, é preciso treinar mais os prestadores de serviço na área de saúde e reforçar para a população quais são os sinais de alerta para agravamento da dengue.
De acordo com levantamento do Ministério da Saúde, o Brasil já totalizou 2,3 milhões de casos prováveis de dengue e mais 830 mortes confirmadas. Os óbitos em investigação somam 1.269. Trata-se da maior epidemia da doença já registrada no país. As informações são do jornal O Globo.