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Mundo Direita fortalecida e regimes autoritários: o que Lula encontrará em sua viagem

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Lula pretende levar seu projeto de integração sul-americana, formado por eixos de interesse do Brasil com um ou mais países.

Foto: Reprodução
Lula pretende levar seu projeto de integração sul-americana, formado por eixos de interesse do Brasil com um ou mais países. (Foto: Reprodução)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcou nesta terça-feira (16) para a Colômbia, quando dará início à primeira etapa de um processo de reaproximação com a esquerda latino-americana.

No mês seguinte, Lula viajará para o Chile e possivelmente para a Bolívia. Mas, diferentemente do cenário de seus dois primeiros mandatos, hoje o presidente, em sua terceira gestão à frente do País, se depara com uma esquerda dividida entre governos progressistas democráticos e regimes autoritários, casos de Venezuela, Cuba e Nicarágua. Enquanto isso, a extrema direita, mais organizada, cresce com força no mundo, cenário que se transformou em um problema central para o Palácio do Planalto.

Com os presidentes da Colômbia e do Chile, respectivamente Gustavo Petro e Gabriel Boric, Lula pretende discutir, no âmbito político, temas como o conturbado processo eleitoral venezuelano, a disputa entre a Venezuela e a Guiana pela região de Essequibo e a atual crise diplomática entre México e Equador — há uma semana, forças policiais equatorianas invadiram a embaixada mexicana em Quito para prender o ex-vice-presidente Jorge Glas.

Segundo interlocutores do governo brasileiro, além de buscar um alinhamento com os presidentes nessas questões, Lula pretende levar seu projeto de integração sul-americana, formado por eixos de interesse do Brasil com um ou mais países. Também quer reforçar as propostas do Brasil na presidência do G20 e conversar sobre medidas para a mitigação dos efeitos da mudança climática.

Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), explica que hoje há uma divisão clara entre os governos de esquerda na região. Petro e Boric, por exemplo, têm se posicionado de forma contrária a Lula em relação ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e o processo eleitoral no país, onde os principais candidatos estão inabilitados.

“Há uma esquerda progressista, jovem, representada pelo presidente do Chile. Porém, também há uma esquerda histórica, sindicalista, que traz uma percepção do mundo dos anos 1980, com dificuldades para se aproximar dos progressistas”, diz a acadêmica.

Além das várias nuances da esquerda da América Latina, muitos desses líderes estão mais preocupados com sua situação interna. Um cenário muito distinto da chamada “onda rosa”, expressão cunhada no começo dos anos 2000, quando havia o predomínio de líderes progressistas na América do Sul, como Lula, Hugo Chávez (Venezuela), Pepe Mujica (Uruguai), Evo Morales (Bolívia) e Néstor Kirchner (Argentina). Temas como a fome e a desigualdade eram pautas comuns.

“É um desafio para Lula, que tinha se colocado como um líder para consolidar e unir [a região] e não está conseguindo. E ele próprio mostra contradição: ao mesmo tempo em que tem um discurso em defesa da democracia, traz posições ambíguas e enfrenta dificuldades para exercer uma liderança regional”, afirma Holzhacker.

Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, Nelson Franco Jobim avalia que os regimes autoritários de esquerda são um grande problema. Além de ameaçar a soberania da Guiana na disputa por Essequibo, Maduro internamente persegue críticos e opositores.

A Nicarágua vive tempos sombrios como não se via desde a ditadura dos Somoza — família que governou o país até 1979, e foi derrotada pela Revolução Sandinista, que tinha, entre seus líderes, o atual presidente do país, Daniel Ortega. Em Cuba, a falta de itens como alimentos e remédios, e o aumento de 500% do preço da gasolina, também colocam em xeque o regime socialista.

“Vai haver alguma articulação da esquerda democrática para ajudar o regime cubano? E a eleição na Venezuela? É evidente que não serão livres nem limpas. Eles vão adotar uma posição comum?”, questiona Jobim, referindo-se aos encontros de Lula com Petro e Boric.

As eleições na Venezuela, previstas para 28 de julho, são a maior pedra no sapato do governo brasileiro, que colaborou ativamente nas negociações para o Acordo de Barbados, firmado no fim do ano passado por representantes do governo Maduro e da oposição.

Apesar das promessas de um pleito justo, o mandatário, que tem forte influência sobre instituições como o Judiciário e Conselho Nacional Eleitoral, se beneficia com a inabilitação de candidatos opositores, entre outras medidas que vêm sendo alvo de críticas de grande parte dos países da região.

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